Estou há alguns minutos aqui vendo o cursor piscar.
Durante a semana geralmente algo acontece que me vem o estalo criativo e que prescinde de maiores divagações para começar a escrever; basta o estalo. Prescinde exatamente não é a expressão adequada para crônicas. Certo seria usar dispensa. O desta semana, porém, envolve um descontentamento da minha filha mais velha a caminho da adolescência que, crescendo, percebe que uma de suas características pessoais poderia ser diferente, mais exatamente como ela gostaria que fosse e não realisticamente como é.
É próprio da idade, porém não menos importante.
Bom, crescer é mesmo isso, não?!
Descobrir que temos algumas limitações, situações que propriamente não podemos alterá-las de imediato. Não é como a sede que matamos num copo d`água. Logo ela perceberá que uma das maneiras de lidarmos com essas situações é mudar a perspectiva sobre como as enxergamos. O batido exemplo do copo meio cheio ou meio vazio. Uma perspectiva nova equivale, por vezes, à própria mudança que almejamos. Logo ela perceberá que há umas boas vantagens naquilo que – hoje – lhe parece uma desvantagem. Assim espero. E, quando isso acontecer, dê-se até mesmo o direito de se orgulhar. Poderá até te parecer pouco; mas não!
Há muitos que avançaram os seus quarenta e dependem sempre de um copo transbordando para o alcance da felicidade.
Tal como um estalo criativo espero que lhe caia um estalo de perspectiva. É fácil de falar, sempre é, sobretudo quando não é conosco, mas é um desafio constante que se nos impõe. E é o quanto basta para esse assunto, mais do que isso falarei demais ou de menos. Lembro de uma história interessante contada pelo Galvão sobre dois outdoors à beira da estrada na entrada da aprazível Paraibuna. Os detalhes me escapam. Temos o essencial.
Quando a energia elétrica chegou àqueles pontos, um anunciante iluminou todo o outdoor com a maior quantidade de luzes que lhe foi possível. Era vistoso e bonito à noite. O outro anunciante, para economizar, programou para se desligarem à noite. Sim, eram concorrentes. E assim, tempos depois, reza a lenda, que o iluminado acabou por suplantar o apagado. Bom, obviamente outros aspectos das empresas influenciaram em seus destinos.
Mas a historieta nunca mais me saiu da cabeça com o seguinte mote: o iluminado sempre vence.
Ambos estavam lado a lado. Um – do copo cheio – achou que a luz seria o caminho. O outro – do copo vazio – achou que o escuro seria a solução. São duas leituras de uma mesma situação. Luz e trevas são vizinhas que se distam por uma caminhada. Muitas vezes é o primeiro passo que muda tudo. Às vezes o porvir nos ajuda. Neste momento, de crônica já posta, toca Heaven and Hell do Black Sabbath. São os nomes que darei agora para aqueles dois outdoors: Heaven and Hell. No mais das vezes as conquistas são lideradas pelas nossas perspectivas e não por nossas expectativas. Ah, é a vida mesmo um carrossel que aprendemos a subir enquanto gira...:
"They say that life's a carousel
Spinning fast, you've got to ride it well
The world is full of kings and queens
Who blind your eyes and steal your dreams
It's heaven and hell, oh well."
Reis e Rainhas para a crônica de hoje – para os tempos atuais talvez – poderiam ser interpretados como “opinião alheia” ou “redes sociais”. Quanto antes iluminarmos as nossas expectativas com as nossas perspectivas mais rápido deixaremos de ser vassalos de um destino sombrio.
Jesus, tá parecendo crônica de autoajuda.
Perdoem-me, nunca foi a intenção.
Só queria conversar.
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