The Learning Tree
- Carlos Camacho

- 23 de nov.
- 2 min de leitura

Passamos rapidamente pela entrada e seguimos para as mesas do café da Livraria da Vila. Abro o computador. A crônica urge, o tema não. Ontem, em périplo pelo Centro de São Paulo, vi a Livraria Saraiva na Praça da Sé com suas atividades encerradas. Havíamos acabado de assistir L'assassino de Elio Petri no Centro Cultural do Banco do Brasil.
A minha namorada acaba de me mostrar uma caxinha de perguntas para casais conversarem; temas diversos.
Sobre a Saraiva fechada? Nem tristeza, nem surpresa; apenas uma sensação serena e lúcida de que o tempo passa enquanto lembranças e clássicos se propagam por gerações. Como o filme de Elio Petri inspirado no livro de Franz Kafka, O Processo, em que o personagem central é investigado sem saber o motivo; lançado num cipoal de armadilhas, prisões e interregotários capiciosos até que sobrevenha a confissão a qualquer custo.
A jornada histórica do devido processo legal.
A minha namorada acaba de folhear um livro chamado Conversas Corajosas, de Elisama Santos.
Nesse mesmo dia fomos conhecer Zur Alten Mühle, restaurante alemão no Brooklin que oferece um chopp da República Theca, PilsnerUrquell, onde Kafka viveu. Ares de Praga na mesa; família, risadas, salsichas, conversas e sentimentos a forjarem uma clássica noite agradável. Entre as mesas chopps vem e vão. O vazio logo ocupado pelo cheio; a vida plena transborda bem ali com mostarda preta.
A minha namorada está voltando. Eu:
-Mor, que tal um livro para me dar de presente?
-Como assim? Dá uma dica.
-Você pode escolher, qualquer um, qualquer tema.
-Mas e se você já tiver?
-Não tem problema, jamais será o que você escolheu. Único. Ah, com dedicatória vai...
-Nossa, mas aí fica mais difícil...
Tenho que interromper a crônica. Atrasados para assistir o filme The Learning Tree, dirigido por Gordon Parks no IMS (Instituto Moreira Sales), parte da exposição A América Sou Eu com o acervo de suas fotografias.
Voltei. Prestes a encerrar o sábado e iniciar o Domingo. Dia agitado. A exposição é incrível! Não conhecia Gordon Parks, às vezes a minha ignorância me assusta; é dele a célebre foto de Shirley, seis anos, com a sua tia na entrada segregada no Teatro Saenger, em Mobile, Alabama, em 1956. Esta acima. Dois anos após o julgamento de Brown v. Board of Education of Topeka 347 U.S. 483 (1954), pela Suprema Corte Americana, declarando inconstitucional as leis de segregação racial no sistema de transporte escolar.
Newt Winger, o personagem central do filme, inspirado no próprio Parks, testemunha um homicídio. O primeiro acusado, inocente, era branco; um julgamento. O segundo acusado, quando então Newt decide revelar o que viu, era negro; linchamento e suicídio.
A jornada histórica do devido processo legal.
L'assassino, o processo de ritos do próprio investigador.
The Learning Tree, o processo de ritos do povo.
Do IMS para Little Beer. Espetinho, família e cerveja artesanal em jarras que vão e vem pelo despojado bar com mesa na calçada e a banda que intercala um Blues, o mesmo ouvido por Parks.
O livro que eu ganhei?
Outro dia.
-



Comentários