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solo le pido a Dios

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 18 de out.
  • 2 min de leitura
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Termino a semana de trabalho com Mercedes Sosa, en directo, cantando “solo lo pido a Dios”, escrita por Léon Gieco, que se inicia aleatoriamente na volta pra casa. “Solo le pido a Dios que lo injusto no me sea indiferente, que no me abofeteen la outra mejilla después que uma garra me arañó esta suerte”. Que o injusto não me seja indiferente.


É fácil normalizar a injustiça quando ela compõe o seu cotidiano. Basta um descuido. É como visitar Parati pela primeira vez e caminhar pelas ruas de paralelepípedo. Os primeiros passos não deslizam; tropeços. Alguns dias e as pedras já não se percebem como empecilho. Já é possível passear pela Vila histórica avistando o horizonte, o artesanato e os turistas. O frenesi. Depois de um tempo a caminhada já indiferente pela cidade.


Os paralelepípedos seguem ali; pedra a pedra.


Tortas. Firmes. Juntas. Já não tropeçamos nas injustiças.


Não me agrada deixar todo o trabalho pra Deus.


Não me agrada deixar tudo para a Justiça Divina.


É a ideia da letra. Força para que as injustiças não se tornem banais como uma rua de concreto liso; aqui. “Só peço a Deus que a guerra não me seja indiferente, é um monstro grande e esmaga toda pobre inocência da gente”. Toda a guerra. Entre nações, entre ideias, entre egos, entre cifras. Talvez o monstro grande alimentado por injustiças não resolvidas.  


Temos fé. Temos resiliência.


Nós quem? Aqueles que não se tornam indiferentes com as injustiças e se demovem de sua normalidade. Não sobrecarreguemos  a Justiça Divina. Eu já perdi um pé de Havaianas andando por Parati. Lembro-me de que me recusei a comprá-las novamente para não ter que pagar preço de turista. Consertei um pé descalço.  Lembro-me também de caminhar pelos paralelepípedos de Outro Preto na minha infância em caminho ao Calabouço; o restaurante. Lembro do meu pai feliz à mesa. Algo me diz para tornar às cidades históricas numa viagem de carro, entre queijos,  doce de leite e cachaça, revisitar as injustiças históricas que encontrar pelo caminho; nunca esquecer que a injustiça faz parte de nossas vidas.


É preciso entender que são elas próprias mensageiras da fé, da persistência e da resiliência. Do pênalti inexistente ao sofá amarelo que a loja não entregou. Da dívida não paga. Da ganância alheia. De uma sentença mal posta. A injustiça que crucificou Jesus pelas palavras de fé.


Peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente e que a crença inabalável de nossas convicções renove em mim a força da fé e da resiliência; ao menos até que compremos Havaianas novas.  

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