É uma cochilada e catapumba! Foi essa expressão mesmo – equivocada e que no máximo dá a ideia de um tombo – que me veio há pouco quando estava pensando sobre a pequena vacilada que dei para que a crônica de sábado último não fosse escrita.
De Sábado ficou para Domingo que ficou para hoje – quarta-feira, dia 28 de outubro de 2020. A expressão mais apropriada para o meu pensamento: uma cochilada e catacumba! Ou seja, dependesse eu da crônica para viver mortinho estaria; catapumba, catacumba!
Um tropeço para a morte.
Vocês sabem bem o que é: sistema de túneis subterrâneos onde os cristãos enterravam os seus mortos em Roma; depois, com o tempo, passou-se também a fazer as liturgias de sepultamento...cerimônias que eram repelidas pelo Império Romano já que os corpos dos que ali viviam pertenciam ao Imperador e a Ele deveriam venerar; em vida. Mesmo durante a perseguição dos cristãos no Império Romano – inclusive no período mais crítico de Diocleciano, as catacumbas não foram destruídas.
Afinal, mortos eram livres para venerar quem quer que fosse. Foram construídos fora da cidade porque era ilegal fazê-lo dentro delas. Roma é o lugar de visitá-las: escolhi uma para minha próxima visita: Catacombe di San Callisto. Mais de vinte quilômetros de túneis. Agora tive uma ideia nova. Quando a crônica não brotar espontaneamente, ou não tiver a necessária paciência para me sentar e escrever, começarei a partir de uma palavra aleatória. Pensa numa aí! O ideal é que outra pessoa dissesse, para que eu não, já receoso, antes de pronunciá-la, a tenha como imperfeita para a crônica. Achei um site que gera palavras aleatórias. Você entra e já tem uma lá prontinha. Pensei nessa alternativa – mais uma para manter a escrita ativa – como um tipo de último recurso, depois que estava assistindo a entrevista de Daphne Gray-Grant durante um curso muito bacana que tem no Coursera chamado “aprendendo a aprender”.
Diz ela que somos dois durante a escrita, o criativo e o editor, ou seja, aquele que tem as ideias brutas, as lança no papel, sem muita preocupação com críticas e o perfeito; aquele que quer corrigir tudo, ajustar as pontuações e refazer frases. O bacana foi a analogia que ela usou. Os dois andam sempre juntos mas ao entrarem no carro somente um pode dirigir. Outro deve ficar no banco de trás, quietinho. Algo como:
- Ah, não! Caralho, sério?! Puta que o pariu! Não vou botar ponto final agora, vai travar o texto, diz o criativo.
- Use então ao menos um ponto e vírgula. Ah, cá entre nós, não se usa palavrão em crônicas, o que vão pensar de você?, diz o editor.
- Foda viu! Precisava interromper agora? Não poderia ao menos terminar essa passagem? Estava me soltando com essa ideia de não ter o que escrever, de catacumba, como seria escrever de Roma...
- Uai, por que você não escreve a ideia corretamente, digo, da primeira vez?
- Meu querido, porque eu sou assim. As ideias vão rolando e se você me para toda vez que a coisa vai rolando, eu não consigo terminar nunca; não chego no clímax. A propósito, não é por outra razão que você jamais escreveu um texto inteiro, eis que sua função é só dar pitaco no que eu escrevo. Fica só comentando a foda alheia. Ok, mas me espere terminar. Nada de coito interrompido.
- O que seria de mim sem aquela ajustada final?
- Cala a boca!
Assim, enquanto o criativo escreve o editor cala a boca. Vice-versa. Assim ficará mais fácil. Eu boto lá uma palavra e sento o reio! Desço o cacete! Solto o verbo! Vou escrevendo o que vai rolando sem ficar com muito mimimi. Toca, aliás, neste momento Hurricane de Bob Dylan. Vamos ver algumas palavras que o site vai gerar pra mim? Usarei esta técnica para a próxima crônica. DADOS – PATO – POLTRONA – GARGANTA – hahahahahah, esta risada é minha. Não veio aleatória. Mais duas: ESCURECER - caralho! – Este caralho é meu; não aleatório. É que já fiquei pensando se eu tivesse que formar um texto com a palavra escurecer. Ou ainda se tivesse que incluir simultaneamente garganta e escurecer. A última: ESPECIAL. Não, chega de palavrão.
Queria que tivesse saído catapulta.
Patos não jogam dados sobre a poltrona. O dia em que tudo escurecer e você estiver numa catacumba de nada mais valerá a sua garganta especial.
Grite agora!
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