Sem preliminares hoje. Aqueles que leram as últimas duas crônicas querem desde logo saber o evento “simples e grandioso” que me ocorrera naquela quarta-feira. O evento. Ou melhor, ambos acontecimentos já que este último só ganhou relevância porque outro o precedeu. Hoje, ao contrário das anteriores, não tenho compromisso; nada mesmo previsto para esta sexta-feira à noite. Ela é só véspera de sábado e nada mais. Não precisarei sair para pegar as minhas filhas tampouco há botecos marcados; o celular vai se adentrando no modo final de semana.
Quase nenhuma chance de ser interrompido. Só há um pequeno problema que gostaria de compartilhar muito rapidamente, nada que deva se alongar ou que seja intransponível a ponto de evitar que sucintamente lhes conte o episódio. Estou sem garantias, completamente lançado às incertezas sobre se leitores continuarão a ler as crônicas depois de, enfim, tomarem ciência do fato. É um risco. Bom, também haverá os que deixarão de ler as seguintes eis que poderão achar que eu estou enrolando para que – pela curiosidade – lhes furte a atenção de alguns minutos.
Pode parecer uma trapaça literária, sabe? Isso igualmente não me agrada. De um jeito ou de outro estarei numa enrascada só. Voltar já não é possível, avançar é a única maneira de encerrar logo esse episódio. Está ficando chato. Estão tocando a campainha daqui de casa...Não! Nem atenderei. A concentração é plena. Até porque ela costuma tocar sozinha vez ou outra. Alguma espécie de curto-circuito que eu jamais consertei.
Não foram poucas as vezes que eu cheguei para abrir a porta e não havia ninguém. E sempre a mesma mania: fecho a porta, ando alguns passos e olho para a campainha. Como se fosse adiantar alguma coisa esse procedimento. Agora toda vez que toca, eu espero alguns segundos e aguardo a segunda chamada. Se nada acontece é mais uma vez a tentativa de me fazer de palhaço dentro da minha própria casa.
Quase que o texto sai da trilha e do meu objetivo principal, mas desta vez seguirei firme em meu propósito revelador, sob pena de perder - com razão – a confiança do leitor. Sabe quando você começa a contar uma história, tipo - Ouça essa, você não vai acreditar! E depois arremata: - Não, deixe pra lá! Imediatamente vem a resposta – Nem pensar, agora que você começou pode terminar. Somos curiosos por natureza, adoramos histórias. É em razão dela que maratonamos séries, devoramos livros ou ouvimos atentamente as histórias que nos contam.
Afinal, como terminará essa história? Quem é o assassino, quem enfim está por detrás de toda aquela trama, quem é o chefão, ou se eles enfim terminarão juntos e felizes para sempre. Ou se desfecho shakespeareano: “O resto é silêncio”. Cai numa cilada esses dias assistindo Round 6 com as minhas filhas. Bastou o primeiro episódio. Quem, afinal, sairá vivo e ficará com os bilhões sangrentos do prêmio.
A curiosidade move a história. Eis porque não lhes ajudo em nada dizendo objetivamente o que me aconteceu. Não sem antes que se lhes agucem a criatividade. Suponha que durante a leitura dessas três últimas crônicas vocês tenham se perguntado sobre “algo e grandioso” que lhes teriam ocorrido durante a vida de vocês. Já teria valido a leitura dessas crônicas ordinárias.
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