Talvez porque tenha Rizzo no nome? A Li sempre foi de sorriso fácil e simpático. Sorria para dizer sim, sorria para dizer não. Sorria para dizer sem falar. Sorria também quando achava algo engraçado. Um dia estávamos a turma toda no Cinema e quando nos sentamos, faz algum tempo isso, bastante tempo na verdade, eu perguntei a todos, aliás, que filme vamos assistir, mesmo? Ela deu risada, mas acho que nesta ocasião foi gargalhada. Ao menos são estas as lembranças que tenho quando vejo as postagens dela.
Ela é psicóloga e vez por outra posta umas pesquisas, perfis e outros quadros para reflexões. Ela é leitora assídua de minhas crônicas. Assídua no sentido de que lê quase todas, mas não todo Sábado. Uma leitora habitual digamos. Lê várias em sequência. Esses dias ela postou um quadro que coloca pessoas felizes de um lado, e suas condutas, e pessoas tristes de outro, e suas condutas.
Na linha divisória tinha um alfinete, sou eu! Tentei logo somar itens para o lado de pessoas felizes. Pessoas felizes conversam sobre ideias. E pessoas tristes fofocam...Vi que pessoas felizes pensam positivo, mas logo me dei conta que, por vezes, na minha profissão, é preciso pensar no pior cenário, ter uma visão negativa sobre escolhas, ainda que eu deseje positivamente uma conduta alheia é preciso aceitar que há pessoas ruins. Más. Calhordas. Se bem que é possível pensar positivo considerando o negativo.
Perdoar é para pessoas felizes.
Guardar rancor é para pessoas tristes.
O problema não é ficar puto com uma pessoa, o problema é ficar muito tempo puto com uma pessoa. Pessoas fazem besteiras. Erram. Às vezes são os outros que ficam putos conosco. Esta é a vida. O problema é que somos limitados no espaço e no tempo. Este é sempre o problema, o dilema final de toda existência. A finitude. Os sentimentos e as emoções ocupam espaço. Ocupam tempo. A raiva ocupa espaço. O amor ocupa espaço. A admiração ocupa espaço. A inveja ocupa espaço.
O plano diabólico para destroçar uma vida ocupa tempo. Enviar um maço de rosas para a sua amada numa quinta-feira chuvosa ocupa tempo.
E consumimos tempo como oxigênio. Mas o resumo do quadrinho é o seguinte porque já estou cansando deste assunto: não tem síntese.
Tem poesia do Drummond para finalizar porque meu tempo de crônica já se está acabando:
INVENTÁRIO
Que fiz eu de meu dia?
Tanta correria.
E o que fiz da noite?
O lanho do açoite.
De Manhã, que fiz?
Uma cicatriz.
Bolas, desta vida
Que lembrança lida,
Cantada, sonhada,
Ficará do nada
Que fui eu, cordato?
Mancha no retrato.
Imaginem a Li sorrindo
Não a conhecem? Não tem problema, ali, logo ali, onde você eufórico passou rapidamente seus olhos furiosos, há uma moça sorrindo. Há sempre uma ali por perto, só que ocupa tempo.
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