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Namorando. Casando. Educando.

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 26 de set.
  • 2 min de leitura

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Frio na barriga mesmo foi quando a porta de vidro se fechou atrás de mim saindo da maternidade; ticket do estacionamento numa mão e o bebê-conforto noutra. Sabia que passaria algumas noites sem dormir, mas achei um tanto exagerado quando a pediatra passou seu celular e nos disse até amanhã!


Fato; bastou o choro escandaloso e estridente por mais de meia hora. Peguei-me debaixo da constante indagação sobre como seria ser pai. Procurava de alguma maneira uma frase que pontuasse as minhas decisões, na verdade alguns pontos que pudessem me nortear. Tipo um mantra. Diante das incertezas sobre o futuro, buscava mesmo uma fórmula que pudesse equacionar o futuro, mas isso eu percebi muito tempo depois. Nessa época ainda racionalizava demais as emoções e os sentimentos.


Não foi diferente de quando me indagava, como seria namorar, depois como seria se casar, como seria meu primeiro emprego. Não demorou muito até que eu começasse a responder a tais perguntas sobre o porvir com o gerúndio. A salvação. Na verdade tive que combinar um pouco do foda-se com as minhas preocupações sobre o futuro; era disso que se tratava.


Namorando. Casando. Trabalhando.


E, por fim, educando. Esta última veio acrescida de uma preocupação sobre exatamente qual seria o jeito certo; a melhor maneira. É uma paranoia relativamente comuns em pais de primeira viagem. Mas aí consegui chegar a uma conclusão; propriamente um consenso entre os vieses racional e emocional: ora bolas, basta educar com os meus valores. Não, eu não vou aprofundar filosoficamente a expressão “valores”. Vai ficar como está para que eu consiga terminar a crônica. Não é propriamente uma fórmula, mas também não é, digamos, tão aberta. Está mais para uma decisão, convenhamos. Percebi depois que além dessa uma segunda se fazia necessária: transmita-os com um máximo de segurança antes que você seja engolido pelos manuais, pelos familiares - os palpiteiros genais por excelência - e ao final pelas próprias crias.


Tudo isso eu lembrei enquanto lia “O Complexo de Portnoy”, do Roth, divulgado como uma cômica ode à punheta. O livro é muito mais do que isso, eis que o personagem Alexander narra do divã os seus conflitos sexuais, emocionais e os vincula à sua infância judia e – mais propriamente – à educação castradora que teve, sob a justificativa de que seria o melhor ao sucesso dele Portnoy, para ser uma pessoa exemplar. Vale um trecho: “Ah, meus segredos, minha vergonha, minhas palpitações, meus rubores, meus suores! A maneira como eu reajo às vicissitudes mais simples da vida humana! Doutor, não aguento mais viver desse jeito, com medo de tudo e de nada! Me conceda a virilidade! Me faça ficar corajoso! Me faça ficar forte! Me faça ficar completo! Chega de ser um bom menino judeu, agradando meus pais em público e esfolando o ganso no meu quarto! Chega!”.


Será que estou exagerando ou criando um trauma firmando um acordo com elas – com sanção prévia e estabelecida – ainda mais se for necessário executá-la, de lerem ao menos um livro por mês ? Assinado: pai da geração Tik Tok. Vou assumir esse risco e por ele me responsabilizarei se o caso – oportunamente.

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