Decidir aos 18 o que fazer aos 40 é cruel; como deve ser.
Eu não tive crise existencial sobre qual curso fazer. Lembro-me apenas de vibrar com a ideia de cursar Direito. Aquele universo tenso e belo ao mesmo tempo naturalmente me influenciou. A paixão do meu pai pelo Direito também me influenciou, embora na época eu não tivesse essa clareza. Ele nunca sugeriu o curso que eu deveria fazer. Bom, oscilei para jornalismo por algumas semanas, mas foi um alarme falso. Mas nem sempre é assim. É comum que vocês adolescentes levem algum tempo até decidir por Biologia ou Engenharia. Perdidos, hormonais, influenciáveis e com muita disposição a faculdade que será feita começa afunilar a vida e a esboçar o futuro.
Essa decisão aos 18 é só um esboço de vida minha gente. É o rascunho do que será editado ao final dela.
Nem sempre há essa opção, às vezes o trabalho é necessário para sobreviver, o emprego que foi possível obter, e, com fôlego, decidir em que você trabalhará ou que curso fará. O mundo gira apesar de vocês. Mas escolher onde trabalhar ou qual curso fazer não é o mais importante. Nunca foi. Rotas podem ser ajustadas e a gradução já deixou de ser garantia de emprego há algum tempo.
O ponto é a decisão que vocês estão tomando. Essa é a maravilha da vida. É a liberdade de decidir que pode aterrorizá-los.
Você começam a aventura para a junventude tomando decisões cujas consequências vocês mesmos colherão. Decidir é mais importante do que o curso escolhido. O processo de decisão é que nos forja e não o que faremos com o diploma. Há formados inúteis. Há inúteis não formados.
Inútil é a vida sem amadurecimento. É o processo de decisão e de assumi-las que os conduzirá para a vida adulta. Meu pai foi a última geração em que pais escolhiam os cursos dos filhos. Eu tomei a minha decisão. Minha filha tomou a decisão dela. A filha do meu amigo também tomou a decisão dela. Os amigos dos amigos delas também, até onde sei.
São vocês que arcarão com a decisão que vocês tomaram.
Não é possível rolar seus próximos dias com os dedos.
E aqui é que reside a beleza dessa idade, descobrir que o futuro será editado por vocês e não pelos seus pais. Decidam e avancem. Agradeçam o caos aparente. Agradeçam a insegurança. Agradeçam a sensação de estarem perdidos. Não há futuro garantido. Não há obra publicada antes de ocuparem as prateleiras, ainda que virtuais. "Como" é mais importante do que "o que fazer". Não há decisão inteligente ignorando a tristeza e alegrias que vocês tiveram. Não ignorem o "odeio matemática". Não menosprezem a "a aula de história é muito legal". É mais difícil tomar decisão sem autoconhecimento. A resposta está em você, sempre esteve. Decidir nada mais é do que colocar experiências, emoções e desejos na balança da vida.
Mais importante do que decidir pelo tomate italiano ou carmen é saber se você gosta de preparar salada ou molho para o macarrão. Ou se você não gosta de cozinhar. Não há vida feliz; há vida. Não há vida triste; há a vida. Só não há vida interessante se vocês não entenderem que as suas decisões trarão consequências
que os levarão a tomar novas decisões
que os colocarão numa nova realidade
que os obrigarão a seguir tomando novas decisões importantes...
Viver nada mais é do que colocar dias na balança onde o fiel, o marcador do peso, se chama hoje. De um lado ontem, do outro amanhã. Calibrem passado e futuro e o dia de hoje será o seu fiel companheiro. Não se desesperem com a ideia de errar. Apenas não decidam sem olhar primeiro pra vocês e depois para o vasto mundo.
Decidir aos 18 o que fazer aos 40 é fácil; como deve ser.
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