O Sábado avança pela tarde sem crônica postada, quando enfim me sento a cumprir este meio-ofício. A falta de assunto asfixia a crônica. O excesso afoga. Desde que voltei de Aracaju não havia dúvida sobre o que queria escrever: Luiz Gonzaga. A minha paixão pela sua música, sua trajetória de Rei do Baião e a vontade de ressaltar a genialidade da música nordestino-brasileira acabaram por me inibir.
Lembro de um amigo meu.... desapresse o tesão antes que ele se apresse. Eu pensei em começar com as letras de suas músicas. O jumento. Xote das meninas. Respeita Januário. Lógico que ele canta ao fundo. Vasculharia ainda mais sobre sua vida se este espaço não litigasse habitualmente com o meu todo-ofício. Foi aqui no Rio que ele ganhou o eixo Sul, deixando de ser um nome somente no Nordeste. O Rio, a Lapa, lançou Luiz Gonzaga para o estrelato nacional. De toda a sua genialidade, há uma música em especial que me emociona e demonstra a força e o orgulho das raízes nordestinas. Hã, não quero nem dizer:
“Eu sou um caboclo feliz.
Se eu nascesse de novo eu queria ser o mesmo Mané Luiz
Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, mais do que eu sou eu não queria ser.
Eu queria nascer na Fazenda da Caiçara....”
Hã, não quero nem dizer...
Mais do que eu sou não queria ser não Senhor!
Quando eu chegasse no Rio de Janeiro em 39
eu ia tocar na zona violenta, na pesada, lá no....
Queria ser tudo isso, ôxente, queria ser o Rei do Baião...”
Havia discos de Luiz Gonzaga em casa.
Lembro-me quando eu vi pela primeira vez a capa sobre a mesa todo paramentado de Nordestino dos Sertões. Ele tocava no Rio em 1972. Eu nasci em 1975. Praticamente no auge de sua fama. Além de sua criatividade, seu português regional e a correção das conjugações lhe dão mais graça ainda...
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco. E o hino nordestino Asa Branca, escrito por ele e por Humberto Teixeira, então? Que braseiro que fornalha, nenhum pé de plantação, por falta d’água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão. Seu lado sarcástico aparece em Ovo de Codorna e O Jumento. Enfim, sua sanfona canta o Nordeste de uma maneira singular.
Eu já passei por suas bandas nordestinas, pelo seu museu em Recife e toda vez que eu vou para o Nordeste ele baixa em mim com tanta vontade que sua sanfona demora mais algumas semanas para me deixar.
A minha preferida dele? A vida do viajante.
Chuva e sol, poeira e carvão, longe de casa sigo o roteiro mais uma estação...e a alegria no coração. Tenho um amigo que me chama de cabeça chata. Eu não sei de onde ele tirou isso, mas que me dá um orgulho danado, isso dá!
É a sanfona.
É a sanfona que acorda o nordestino que me habita. E se for do Rei do Baião, hã, nem quero dizer. Eita Brasil bom danado!
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