Crônica é meio que assim...como pisar no tomate.
- Carlos Camacho

- 12 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Primeiro uma, depois a outra. No prazo de três semanas minhas duas filhas aprendiam o gênero crônica na escola.
– Ah meu pai tem um blog de crônicas.
Primeiro falei com a professora da Vivi, batemos um papo rápido, ficou a ideia de escrever uma crônica mais para os alunos. Depois veio a Oli. Sua professora ficou de ver o blog e, talvez, depois, eu fale com a turma. Está meio que no ar ainda. Nem preciso dizer que topei tudo na hora. Logo avisei as duas que não são todas as crônicas que crianças e adolescentes podem ler no meu blog.
- Depois envio algumas com conteúdo mais apropriado. Adultos por favor parem de ler a crônica agora, sua presença aqui é desnecessária e indesejada. Vão fazer atividades de adultos, ler crônicas de adultos, trabalhar para pagar a escola e as férias da família porque esta crônica não é para vocês, mas tão somente para as crianças e adolescentes que estão aprendendo crônica na escola.
Pronto, vamos lá amiguinhos.
Agora sim, estamos todos atentos para que vocês leiam a melhor crônica da vida de vocês. Sim, modéstia não é o meu forte. Eu sei. Todos temos alguns pecadilhos. Somos humanos. Também é verdade que devemos nos orgulhar de nossas conquistas. Acreditar é o primeiro e grande mandamento de todos os alunos. Pois bem, chega de papo furado. Larguem os celulares, afastem-se do barulho de tiro do game, do liquidificador, da máquina de lavar e daquela tevê ligada que ninguém está assistindo. Procurem se concentrar mesmo em meio ao caos pandêmico que se instalou.
Evitem interferências externas desnecessárias.
Façam cara de sério, como se estivessem resolvendo um problemão de matemática. Besteira! Podem botar uma música que combina perfeitamente com a leitura de crônica. Eu mesmo ouço Spotify enquanto lhes escrevo. Chega de graça, vamos lá! A primeira e grande função da crônica é divertir o leitor através de passagens do cotidiano; das coisas que acontecem em nossas vidas. É desejável que a crônica seja interessante e divertida.
Mas por quê?
Ela se popularizou modernamente com os jornais de circulação diária e as pessoas a liam entre as notícias do dia. Muitas tensas. Todo exemplar tinha uma crônica. Ainda hoje é assim, os grandes jornais publicam crônicas diariamente. Era o meu trecho preferido do jornal. Mas hoje com a internet ela não está restrita só aos jornais. Pegaram? Tudo pode ser objeto de crônica, prestem atenção no que acabei de dizer. Eu vou repetir e ai de vocês se deixarem de colocar isso na prova.
Vou lhes contar um segredo: estou em conluio com a professora de Português e já está acertada a seguinte pergunta: o que pode ser objeto (assunto) de crônica? Tudo! A resposta certa é: tudo! Como assim tudo? Ora, o cronista conta coisas do cotidiano. Parem dois minutos e repassem mentalmente tudo o que vocês fizeram ontem. Pois bem, escrever crônicas é contar um episódio da vida de vocês que parece ser mais interessante do que os demais. Pegaram?
Ou que o cronista enxerga de forma peculiar. Querem exemplos, né? Vocês, estudantes, não mudam nunca! Ei-lo:
Suponham, então, que ontem vocês tivessem ido ao supermercado com os pais de vocês, sei lá, comprar tomate para fazer molho caseiro. Quando você pega o tomate, ele escorrega da tua mão. Você tenta pegar mas ele escapa de novo. E você vê o tomate caindo em câmera lenta como num vídeo. “Niquiqui” ele cai no chão, a moça do lado o chuta sem querer...e você vai seguindo esse tomate com os seus olhos...torcendo para ele parar...mas ele não para....chega até a soleira da geladeira do outro lado do corredor. Neste exato momento, a Senhora que iria pegar o requeijão pisa no tomate, escorrega e, quando vai estatelar no chão, seu marido a segura. Ufa! Mas quando ele segura a mulher, você não acredita no que está vendo! Ele também acaba pisando tomate! Madona mia!
Aí depois vocês podem continuar a história. Ir ao supermercado em princípio não é assunto de crônica. Mas se algo diferente, engraçado, acontece em seu dia a dia, já temos um gancho para torná-lo assunto de crônica. Eu já escrevi sobre: as lembranças de papai, as memórias de vovó, quando eu surtei com o slime, sobre a viagem de férias com as minhas filhas, sobre Listerine, coxinha e feijoada, minha época de estudante, quando era aluno do Torigoi no CLQ e por aí vai.
Pegaram?
A linguagem é direta com o leitor. É discursiva. O cronista conversa com o leitor. O texto pende mais para o informal do que para o formal. É uma leitura que deve ser rápida e prática. Não é função primeira da crônica fazer o leitor pensar, refletir, embora possa acontecer, desde que a história seja interessante.
Pegaram? Dica extra: as cronistas dizem muito sobre os hábitos e costumes. Sim, é como um diário de costumes, da História. Quando puderem, acessem um site que se chama Portal da Crônica Brasileira. Leiam uma crônica escrita em 1950, quando vocês ainda não eram nem projeto de existência, e comparem com uma crônica escrita na semana passada.
Reparem na diferença de linguagem.
Reparem na diferença de costumes. Pegaram? O meu cronista preferido atual? O já falecido Fernando Sabino. Onde ler crônicas? Nos jornais e no site do Portal da Crônica Brasileira. Bom, já está ficando chata essa crônica. Vou encerrar por aqui para que vocês não se aborreçam. Pegaram? Ah, pelo amor! Segurem firme o tomate para que ele não caia...ou terão que escrever uma crônica.
*uma pequena confissão: esta já é a minha crônica preferida.





Comentários