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Cortella, e a sua mortadella?

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 22 de dez. de 2021
  • 3 min de leitura

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Todos os atendentes embalam os frios no papel. Ela não. Então eu passei a pedir só para Ela, especialmente a mortadela que jamais deve ser embalada no papel comum; com o mesmo tamanho utilizado para os demais frios. De diâmetro maior, e com a umidade, ela acaba rasgando o papel e quando chego em casa invariavelmente está esgarçada e escapando da embalagem. Isso me incomoda.


É apenas mais uma das minhas manias.


Outro dia foi o presunto cozido que chegou esgarçado.


Aí eu passei a pedir só para Ela. Não precisei falar nenhuma outra vez. E, hoje, até o queijo veio embalado no plástico. Os demais consumidores recebiam seus frios nas embalagens de papel. O chato, de plástico. Eu já cheguei a pedir para seus colegas que embalassem no plástico, mas é preciso pedir toda vez. E aí eu passo por chato. Nada agradável. Uma vacilada e vem tudo no papel; inclusive a mortadela. Ela também embala de forma mais justa, evitando que os frios fiquem dançando dentro da embalagem.


É simples.

Ela é caprichosa e mais atenta do que os seus colegas.

Mais simpática também.


Brasileiro está acostumado a ser atendido de forma simpática, que é muito mais do que atendimento cortês. Corta. Cortella nos conta que seu pai o fazia tirar inúmeras vezes o decalque do Fusca para a renovação antes de finalmente aceitar aquele que iria para o licenciamento. E lhes dizia: vocês podem fazer melhor. Seu irmão participava das missões. O texto começa com a ideia de falar sobre o capricho em nossas atividades. Relendo, porém, percebo que seria um típico texto de autoajuda, de reflexão, o que definitivamente não é o meu forte. Deixo essa empreitada para a genialidade do Cortella. Então esqueçam tudo o que escrevi acima porque não teríamos um final interessante mesmo.


Vamos falar só da Mortadela.


A minha existência propriamente se confunde com a mortadela, especialmente a Ceratti, criada por Giovanni Ceratti, um imigrante que começou a fazer embutidos típicos para a comunidade italiana. Ao lado da cerveja gelada de meu avô havia sempre um prato com Ceratti fatiada e meio limão cortado. Naquela época a mortadela não era vista como um embutido nobre. Hoje, o quilo da Ceratti costuma superar o do próprio presunto. Meu pai manteve a tradição, jamais voltava do supermercado sem Ceratti.


No meu próximo périplo pela Itália, Bologna não me escapará.


Também o vilarejo chamado Diamante, a cidade do festival de peperoncino na Calábria, região de onde meu bisavô emigrou para o Brasil. Eis porque não faltava pimenta vermelha nos pratos de minha querida avó Cidinha.


Hoje, pois, no dia em que completo quarenta e seis anos, o brinde vai para a Mortadela. Ah, também para Ela: a simpática moça que embala a mortadela no plástico e, mesmo não tendo a menor ideia do que esse embutido representa para a minha vida, assim faz com carinho e dedicação para um cliente chato.


Careca e chato.


Agradeçam aos chatos caprichosos, eles só buscam uma pitada de perfeição em nossas vidas. No mais das vezes, pretendem apenas facilitar a vida do próximo. Imaginem a alegria do funcionário do Detran ao receber em mãos o decalque limpo e nítido do pai do Cortela.


Aliás, estou certo de que o Cortella gosta de mortadela com limão. Só não sei se ele pede no plástico; vou perguntar e lhes digo noutra crônica.



 
 
 

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