com um comunista é menos empolgante do que Pastoral Americana, ambos do Philip Roth, vai esquentar lá pela página 284 quando o jovem Nathan está sendo recrutado por O´Day. Após uma incursão psicológica pelos dormitórios dos comunistas, vai distribuir panfletos aos operários durante as trocas de turnos nas fábricas; chega a dizer ao seu pai: Sou comunista! Convicção que não dura cinco páginas. É genial como o livro narra o ideal comunista no pós-guerra e a perseguição (as listas negras e conselhos) de que são alvos pelo Governo Americano; em pleno Macartismo.
É muita genialidade para um escritor só. É do Machado!
Como sempre, o sábado chega antes do final do livro. Vejam vocês que me aconteceu esta semana: inusitado. Antes é preciso lhes confessar algo ligeiramente paranoico. Toda vez que começo as crônicas sobre algum livro que estou lendo me vem rapidamente o logo do Youtube e me pergunto: para que a referência ao livro se tem um monte de vídeo falando das obras do Roth, da vida dele, entrevista com ele e resenhas fantásticas feitas por canais muito bon?
Em seguida se agrava a situação: uai, por que não grava um vídeo-crônica-resenha-gracinhas? A resposta é sempre a mesma: com tanta coisa boa já postada, mais um falando sobre o mesmo livro, o mesmo autor? Sim, impressões e gracinhas podem ser autênticas. Mas custa: dá mais trabalho gravar, editar, colorir e postar do que simplesmente se sentar e escrever. E aqui algo curioso, os três principais canais de resenhas que acompanho se valem de livros impressos e não digitais. É o cenário. Essa é a grande diferença entre ambos. O papel, além de queimar, monta cenários. Imaginem uma biblioteca de Kindle que coisa mais sem graça.
Bom, voltando, sobre a coisa curiosa que me aconteceu essa semana. Curiosa não no sentido de que nunca me aconteceu; pelo contrário, logo depois me dei conta que foi a segunda vez na vida. E me lembrei exatamente como foi a primeira. Na verdade, só foi algo inusitado justamente por essa razão, pelo fato de ter ocorrido somente uma única vez em toda a minha vida. Até essa semana. Até quarta-feira na realidade. Curiosa no sentido de que não esperava que algo tão simples e tão grandioso pudesse ocorrer sem qualquer prenúncio, sinal e – logicamente – esboço de planejamento.
E se deu exatamente da mesmíssima maneira.
Tal qual.
Exceto, por óbvio, pelo tempo, pela só distâncias das idades. Ah, e pelo meu tamanho. Não tamanho da alma ou de minhas ambições. Pela compleição física mesmo. Hoje sou careca. Lá não era. Hoje já não sou atleta e meu criado mudo ostenta um remédio para hipertensaõ. Interessante é que nenhum desses elementos, digo, o tempo ou o tamanho, ou ambos, me impediram de constatar o mesmo fato que me ocorrera antes, na juventude exuberante de meus dezoito anos.
Ah, quase me esqueço: o local também não foi exatamente o mesmo, mas a cidade sim. E, assim que me dei conta do que tinha acontecido, parei exatamente onde estava. Inerte. Certificando-se mesmo de que tivesse ocorrido porque jamais poderia imaginar que a mesma cena pudesse se repetir mais uma só vez.
Não chegou a me perturbar, senão lancei-me a investigar se seria exatamente a mesma cena, eu vendo de fora e afastado de mim mesmo. Tivesse um drone fotografado ambas as cenas, postas lado a lado, ignorando-se esses detalhes de tempo e tamanho – e vento, a conclusão seria inequívoca. Uníssona.
Aconteceu de novo, quase exatamente como da outra vez.
Peraí, estão me ligando.
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