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Bruno e Rafael, ali na 11.

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 16 de jan. de 2021
  • 3 min de leitura

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Morde-se delicadamente a parte de cima.


O suficiente para se tirar a tampinha, praticamente aquela mordiscada em mamilos tesos. A casquinha fina e crocante se rompe. Coloque-o sobre o prato e penetre no buraco um generoso fio de azeite. Umas gotas da pimenta da casa. Na próxima mordida a couve e o bacon triturado vão aparecer e se misturar deliciosamente com a massa da feijoada. Os outros bolinhos que acompanham a porção são de frango com massa de mandioca e de costela com queijo.


Bateu o Bar do Giba, foi a primeira coisa que eu disse. Eu já havia feito bolinho de feijoada em casa, mas os do Bill, o cozinheiro que os havia feito, me fizeram perceber a longa jornada que tenho adiante. Fui até a cozinha, não aguentei. Adoro conhecer a cozinha de boteco e de restaurantes. Ele me contou como faz. Não serei nobre como ele foi comigo.


Vai lá experimentar e converse com ele.


Já é um ambiente tradicional na cidade de Rio Claro. Fazia um bom tempo que não ia e, da última, estava mais para as biritas e o fervo do que as comidas e as porções. Em tempos de reclusão, foi uma das tardes de domingo mais agradáveis da pandemia. Um dos sócios, o Rafael, daí o nome BR11, Bruno e Rafael na rua 11, passou pela mesa e passamos a jogar conversa fora.


Seu pai mudou-se de Santo André e foi para o interior. Arrendou um bar, outro, e por fim a pizzaria que é vizinha de muro, Jangada. Acabou por comprá-la. De bancário se aventurou com o seu irmão no BR11. Adoro as histórias de empreendedores. É uma aventura; de repente a trilha acaba e tem um abismo pandêmico. Teve que doar todo o estoque perecível para não estragar. Amargou meses fechados e depois, na retomada, resolveu abrir aos Domingos para a minha benção.


A caipirinha veio de Nega Fulô acompanhada de uma dose cortesia de um produtor amigo da casa. O atendimento é ótimo. Eu sou chato. Como vocês fazem a caipirinha? Macerada, umas duas três vezes. Aí você sabe que é boteco bom mesmo. Vou te pedir um favor, depois de macerar solte a cachaça mas não mexa. Veio melhor do que se eu mesmo tivesse feito. Aí me dei conta de que não tinha lhe perguntado sobre a casquinha fina e crocante. Estava fazendo meus empanados com a panco mais grossa um pouco. Voltei lá.


Bill, mas e esta casquinha fina? Posso ver a mistura das farinhas? Para o meu delírio me mostrou a textura das farinhas e a mistura de ovo e leite. Sim, a felicidade pode ser encontrada tanto em mamilos tesos como em bolinhos de feijoada. A nossa culinária é incrível. No dia seguinte, lembrei-me de folhear duas obras de arte que tenho aqui em casa. Uma do Rusty Marcelinni, Meu Brasil Brasileiro, e a outra que veio das estantes já mortas de meu pai, Larousse da Cozinha Brasileira, onde descobri que o Tucupi é extraído da mandioca-brava e durante o processo de extração de seu caldo é preciso cozinhá-lo por horas para que o ácido cianídrico (venenoso) da goma seja eliminado.


Não gosto de lamentar a vida como ela é. Nem lamentar a morte. Nem romantizar a vida. Em vez de desejar que meu pai estivesse ali comigo, simplesmente levantei a Nega para cima num brinde imaginário. E dei uma boa mordida no bolinho com muito azeite, como ele fazia. Depois mais bate papo com o Rafael; depois com o João, um cliente assíduo e na saída passei na cozinha pra falar tchau pro Bill. Já está na hora de levar a sério um desejo antigo que tenho. Conhecer o restante dos Estados Brasileiros aprendendo a cozinhar um Brasil que me é desconhecido, o Rusty não deve ter me encorajado à toa:


“Caro Carlos,


Este é o meu Brasil brasileiro.


Espero que através deste livro


Você queira descobrir o


SEU Brasil brasileiro


Boa viagem e bom apetite!”


Obrigado Rusty, Bruno, Rafael e Bill.


Também a todos os empreendedores e cozinheiros que forjam nosso Brasil Brasileiro!


Mandarei lembranças logo logo, de um Estado que me é desconhecido.

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