Descemos do avião mergulhando na brisa constante; no calor quase abafado. A quarta-feira Aracajuense lembra um Domingo qualquer em São Paulo, é um vaivém tranquilo. Não demorou muito para chegamos aos Mercados Municipais, almoço na Dona Rita; ambulantes se revezam incessantemente para nos vender as suas traquitanas. O primeiro chegou a se sentar. O segundo, meio hippie meio artista, recitou O amor bate na aorta de Drummond; em seguida narra a sua jornada para voltar a Maceió por Neópolis cruzando o Rio São Francisco até Penedo.
De tudo que a filha da Dona Rita preparou para o almoço o melhor foi o troperinho com feijão de corda. A pimenta se chama 15 segundos no inferno. Eu, que gosto de pimenta apimentada, passei uns 30 deles ardendo o fogo do capeta. Muito artesanato no Mercado Tales Ferraz e mais adiante o Albano Franco, dos peixes, frutas, verduras e temperos.
O rio Sergipe acalma a paisagem; amansa a cidade. Na volta uma rápida passagem pelo Shopping. Aceleremos a crônica. Já à noite paramos na barraca da Dona Nélia onde experimento pela primeira vez Caruru, uma pasta de quiabo, amendoim, leite de coco, dendê e temperos outros queque Isa não soube complementar. É diferente. Primeiro o perfume do amendoim depois o quiabo vai chegando aos poucos. Caruru se junta ao vinagrete e recheiam o acarajé. Ambulantes se revezam incessantemente nas mesas. Artistas que pintam azulejos. Palhaços e mais traquitanas que são oferecidas. Eu, leve como a brisa, amansado pelo calor aracajuense cedo a alguns e lhes deixo falar de seus trabalhos.
Faz bem viajar depois de muito tempo entocado.
Percebo que a pandemia me entocou muito além de meus movimentos; criou-me um estado de marasmo que não me é normal. Na praia do Atalaia a quinta-feira se agita ligeiramente. Não nos cansamos de ir para lá e para cá num arrasta pé ritmado pela brisa. Foi um dia só. A cidade interage e não agride. Aracaju é cidade planejada. A primeira cpital, São Cristóvão, tinha a logística mais complicada, era custosa mantê-la longe do litoral pelos deslocamentos das mercadorias através do rio Sergipe.
Aracaju teve vários trechos aterrados.
Chego a imaginar que os caranguejos estão por debaixo de toda a Aracaju; não só nos mangues. Eu ainda não experimentei. Amanhã talvez. Não vejo a hora de usar aquele martelinho para quebrar o marasmo de só andar pra frente. Sair da rotina é andar de lado. Manteiga de garrafa, dendê, cachaça com caranguejo, com caju...caruru e alguns segundos no inferno me revigoram e me mantém viva a chama de conhecer cada vez mais meu Brasil Brasileiro.
Ainda acho cara a passagem aérea para viagens internas. Lembro de uma amiga das antigas que é fera no setor de Turismo. Mariana Aldrigui. Falo com ela. É cara porque 42% do preço é tributo e o querosene de avião é em dólar. Trens não temos. Estrutura para Motorhome não temos. Por ora, aproveitemos o que temos, como podemos.
Vão!
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