Escrevo de Helsinki.
Ao menos é o que o céu cinza e obscuro de agora me permite viajar para lá daqui mesmo de São Paulo. Sim, basta que eu não compare as construções e os índices de criminalidade. Demos uma pausa, Olívia e eu, na série deadwind, que se passa na Finlândia. De lá, por ora, conheço só a vodca mesmo. As séries nórdicas me agradam; no mais das vezes assassinatos misteriosos que, nos parece, ocupam toda a força policial e há sempre um detetive que não dorme enquanto não desvenda o mistério.
No mais das vezes a sua vida pessoal é uma bagunça.
O que me fascina mesmo é o gelo.
O frio.
Já me disseram que esse meu apego ao frio vai esfriar mesmo quando eu for para um país nórdico ou para o Canadá durante o inverno. Você não sabe o que é frio, dizem. É verdade. Mas não me escapam desta vida sem ficar alguns dias numa daquelas cabanas perdidas no meio do nada e do gelo, onde temos que sair para caçar o jantar. Oli foi para walking dead e eu preparo meia dúzia de alcachofras à Cidinha, a nonna. Muito alho na técnica pinga e frita.
Leva tempo, não pode colocar toda a água de uma vez. O tempero de alho tem que “chuchar” no meio. Muito alho, muito alho. As comprei aqui no mercado local; pequenas. Não achei aquelas maiores e com folhas mais largas.
Minha tia é categórica: alcachofra tem que comprar em São Roque, na rota do vinho. Começam a colher em outubro. Alcachofra gosta de temperaturas médias, nada muito rigoroso. Nada de extremos. Certamente devem ser mais caudalosas do que as que comprei por aqui. Alcachofra está para São Roque como shitake está para Cunha. A terra do Fusca. Dificilmente a plantaríamos na Finlândia.
Em meu périplo pela Itália elas estavam lá nas mercearias, ao lado dos pimentões, sem qualquer distinção por nobreza. É o maior produtor de alcachofra do mundo. Depois o Egito seguido da Espanha. Peru e Argentina produzem mais alcachofra do que nós. Não deve ser só o clima. Cada uma sai por R$ 4,39 no mercado local. Devo achar as bitelas no mercadão de Piracicaba. Ela não fazia na panela de pressão.
Já está a hora e meia do fogo. Haja gás.
-Pai, é boa essa alcachofra?
-Filha, muito alho. Muito alho. Tem que “chuchar”. Ah, e leva tempo!
Coisas boas nos tomam tempo.
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