Voltamos para a terra dos Venâncios, Gonçalves; no rancho de sempre chamado vida dura. Pouco antes de Paraisópolis, numa lombada, vi lindos cachos de uva que desconfiava não fossem da região.
Parei. Papo vai, papo vem, vinte reais o quilo; são de Petrolina.
Um grupo de dez paranaenses compra um caminhão numa carga que dura quatro dias e distribuem pela região. Quatro reais e cinquenta o quilo com o frete já incluído. Somos um Brasil de oportunidades mesmo. Sim, é lucrativo como deve ser. Em quinze minutos conversando o seu estoque quase acabando. O segredo? A localização, sempre numa rota turística. Já no café da Vó Niza três goiabadas cascão por dez reais.
Ah, quase me esquecendo, pouco antes, em Borda da Mata compramos pijamas. Modernos, quadriculados e confortáveis, pelo preço médio de setenta reais. - Durante a pandemia ficamos sem produtos, me diz o dono. Faz todo sentido, não?
O preço do leite acompanha a alta da gasolina. O da terra segue a alta do bitcoin. Como eu não sou economista não lhes consigo explicar a correlação entre esses itens; se é que há alguma. O preço de antes não volta é outra máxima da economia que igualmente não lhes ofereço uma explicação mais técnica, exceto que não gostamos mesmo de regredir. A peça do queijo quinze reais. A fava de mel cinquentão, são de abelhas campestres me diz Dimas. – Ah, sem ração. – Como assim sem ração? Os criadores de abelhas colocam xarope ou outra substância doce na saída da caixa. Assim, as abelhas não precisam buscar as flores. Sim, muda o sabor! Dimas me garante. Foi difícil, segundo ele, achar mel com fava. Com chuva e frio as abelhas sentem que a florada poderá ficar escassa a se irritam quando a caixa é aberta. É o instinto. Com esse tempo tem que usar o macacão. Na primavera, com florada abundante, se tira mesmo sem ter que usá-lo.
O doce de leite é feito pela Lourdes, esposa do Rodolfo. Leva o dia inteiro para fazer; o pote sai a quinze Reais. Tudo aqui no bairro dos Venâncios. Com a chuva ficamos isolados, se sair não volta. Lama. Lama. Lama. Nossa sorte é que conhecemos o Ditão. Além de vizinho, ele vende Amélia a quinze Reais o litro. Como estava no centro, concordou em trazer alguns insumos da cidade. Heineken, marshmallow, coca zero e fermento.
A fornalha já está acesa para a pizza que sairá mais tarde. Como tinha pedido também para a Vera, ela acabou trazendo o fermento antes do Ditão. Tudo aqui em Venâncios.
-Mas e se o lamaçal não deixar o Ditão voltar para cá?
-Ele vem de ré, como fez outro dia.
Esse rancho é do Isaías, também Venâncio. Ele já deixa alguns itens básicos aqui na casa para a hipótese de não conseguirmos ir até a cidade. Pensa num batuta gente boa! Não, lenha não falta, ele compra por metro e não em saco. A playlist é de Sertanejo raiz. A caipirinha é com limão caipira; cortesia do Ditão.
A paz é caipria; tudo se acalma às vezes de nossas vidas duras.
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