- A próxima crônica está ótima!
- Como assim, você começa um texto falando do próximo? E todo aquele papo de viver o presente, de focar as energias no agora, afinal a próxima somente será postada no próximo sábado! Daqui a uma semana! Você parece o Aloisio que namora Ester pensando em Marina. Que come assado pensando em frito. Tem noção do mar de caminhos que se abre numa semana?
- É que o assunto da próxima crônica é muito mais interessante do que o de hoje.
- Uai! Então escreva hoje a crônica do próximo sábado e a de hoje no próximo sábado. Só trocar.
- Não dá.
- Hã?
- A ideia toda - a chamo de bruta - não está pronta ainda. Tá quase.
- Não dá para terminar agora?
- Até daria, mas pra ela ficar engraçada eu preciso de uma semana. A última burilada.
- A de hoje já está pronta?
- Ainda não, mas já tenho a ideia bruta.
- Pronta?
- Pronta.
- E quando a ideia bruta vira ideia líquida?
- Quando eu começo a escrever.
- E se você começar a escrever a crônica do próximo sábado para ver se ela se burila no texto e já vira líquida e vai se acomodando.
- É mudar o procedimento.
- Que procedimento?
- Da criatividade de como as coisas vem acontecendo ultimamente.
- Mudar não é bom?
- Assim de repente, sem avisar?
- Sem avisar quem?
- A ideia.
- Uai, de onde ela vem?
- De mim.
- Peraí. Deixe-me ver se eu entendi. A ideia vem de você...é tua. Ninguém ainda sabe. São como os atos preparatórios do crime os quais, se não executados, não configuram crimes. É só você avisar a si mesmo. Basta você avisá-la agora que vai mudar daqui a pouco e daí já não tem mais surpresa.
- Tá vendo, você mesmo disse aí que se executar as ideias hoje eu cometeria crime contra o sistema.
- Que sistema?
- Da criatividade.
- Não, foi só um exemplo. Escrever não é crime. Não está no Código Penal descrito como crime.
- E se eu ofender alguém?
- Depende. Você escreverá com o intuito de ofender alguém, caluniar ou difamar alguém, mentir, imputar fatos que sabe inverídicos?
- Não.
- Então não! Bom, já mudamos de assunto. Faça como quiser. Escreva a de hoje hoje e a próxima no próximo sábado.
- Uai, e o que acabo de fazer? Você é um pouco complicado, não?!
Estre fragmento foi retirado da discussão entre o neurônio prático e o perfeccionista nos minutos que antecederam a elaboração desta crônica. Dedico este diálogo a Fernando Sabino, meu atual gênio preferido.
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