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o pau do seu Zé da Geribá!

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 11 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura

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Encostou do meu lado na barraca da praia e começamos a conversar. Seu Zé é vendedor de sorvete há mais de quarenta anos na praia de Geribá, Búzios, Rio de Janeiro.


-Não, o açaí não atrapalha a venda do sorvete não, tem espaço pra todo mundo. O que mais mudou foi a quantidade de sorvete que compravam e o preço. Eu encostava nas barracas e o pai saía comprando sorvete pra todo mundo sem nem perguntar o preço, oito, dez, todos repetiam! Ali mora o Sr. tal, depois o Sr. fulano. Nesse trecho só tinham umas três casas quando comecei a vender...O que me salva são os condomínios...como sou conhecido consigo entrar. Ah, sim, todos os ambulantes precisam de autorização para vender na praia. Sem licença a fiscalização pega mesmo.


Dei-lhe uma estelinha pra beber comigo. Logo meu sobrinho acabou comprando o sorvete dele; já fazia uns vinte minutos que estávamos ali papeando. Como quem sabia que a venda era uma questão de tempo, ficou ali de boa conversando comigo; o argumento de venda, por vezes, é só tempo e paciência mesmo. Meu sobrinho hesitou entre três sorvetes e não se decidia. Seu Zé arriscou. Vai ficar com o pinta-língua. Cinco minutos depois, pegou por R$ 10,00 o pinta-língua. Falando em preços: R$ 10,00 a lata Heineken. R$ 8,00 o milho na espiga. R$ 10,00 o milho no copo. R$ 10,00 o açaí de 200 g. R$ 50,00 o aluguel de um guarda-sol e cadeiras. Ou R$ 120,00 de consumação com ao menos uma porção ou prato.


Nem lembro o motivo pelo qual inclui o seu Zé na crônica. Quando falava com ele me bateu aquela vibe de conhecer o Brasil, as histórias, registrar como estão as praias, os preços, como é turistar em verde e amarelo. Como era. Como é. Porém relendo o início da crônica visivelmente faltou emoção, faltou um tchã. Acho que nem a Carla Perez gostaria de ler esse texto. Ah, lembrei, queria só registrar a mudança de comportamento do turista na praia de búzios em relação ao sorvete.


Seu Zé não admitiu mas eu sinceramente acredito que o açaí tenha reduzido a venda dos sorvetes. Quis dizer problema do ponto de vista do sorvete. Imaginem o Açaí e o Sorvete trocando ideia entre si em Geribá:


-Tu me fodeu mermão!

- Eu não fodi ninguém, eles que me preferem, não sou tão doce, refresco mais e chego arrepiando na quantidade...

-Tá bom que você não é doce! É doce pra cacete! E aquele monte de trem que vocês se metem no meio, chocolate, leite em pó, confete, granola e mais a puta que o pariu! Já vi açaí que nem açaí tinha, só porcaria!

- Ah, mas é opcional né mané, hoje as pessoas querem ter um monte de opções e escolher. Nego só pega o que vai come...


-Por um acaso tu acha legal pagar o chocolate do Alpino e depois não comer? Tu é otário?! Acabou! Estamos noutros tempos! Variedade, multiplicidade, muito tudo!

- Se liga, você precisa de copinho! Eu tenho pau! Nada substitui o pau, a turma quer pegar no pauzinho e chupar! Sem essa frescurada toda de colherzinha...

- Bora circular vai, verão tá terminando, depois a gente termina essa treta. Bora arrancar a moeda da turistada!"


Moral da história: turistando vão te foder de qualquer jeito, relaxa mermão!


Submoral da história: nem sempre o pau resolve...

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