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a paz existencial

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 24 de jul. de 2019
  • 2 min de leitura

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Eu já não poderei anunciar aos ventos ou aos recantos recônditos no próximo aniversário do blog que todo sábado ela, a crônica, estava lá, antes da feijoada. Deixei passar o último sábado e agora nesta quarta feira com alguns dias de atraso ela aparece.


Penso logo em instituir julho e dezembro férias de crônicas também. Recebo uma mensagem de uma amiga que acabara de ler as últimas enviadas e me confessa que uma das frases lidas virou jingle para o seu dia. E aí a o senso da escrita, da urgência, me retoma rapidamente. Os leitores é que fazem o escritor.


Qualquer aventura diferente desta em que o escritor viaja junto com seus leitores é um solilóquio masoquista; e até neles, nos solilóquios, há uma rasa fumaça de esperança de que um dia ele se tornará um diálogo. E há tantos. E tantos houve. E tantos haverá. Caríssimo Prof. Marcel penso que estas últimas orações são exemplares para fixação da regra sobre a flexão verbal do verbo haver.


Estou sentado na mesa de um camping enquanto minhas filhas discutem entre si dentro da barraca. É uma pequeno conflito que ouço sem interferir. Desde que chegamos ajudaram em praticamente tudo, de modo que agora estamos de boa. O macarrão de molho especial acaba de ser devorado. Ao fundo som de vento toca entre os silêncios da mata. Antes desse pequeno entrevero, juntas, inflaram o colchão, arrumaram as camas, organizaram a mesa, voaram com a lona amarela, fincaram estacas e exploraram o entorno.


Eu pego o computador e abro uma cerveja preta. A brisa é leve, nem fria, nem quente, nem pretensiosa. Eu sinto a paz existencial. Não é fácil definir paz existencial. É uma sensação muito boa. Não é eufórica nem muito exagerada. Não é uma tempestade. Nem uma explosão que te faça levantar; voar. É uma sensação de tranquilidade; de excitação latente. Não é um estado de sossego exaustivo.


A paz existencial identifica um estado raro de prazer em que você está muito bem com o seu passado, ligeiramente excitado com o teu futuro e o teu presente quer se alongar um pouco mais. Necessariamente traz em si a convicção de que você viveu a boa vida. Que você sentou no banco na beira da praia e refletiu sobre suas inquietações. Ela te chama de canto e avisa que vida é boa; que é isso aí. Que até poderia ter sido um pouco melhor, até poderia ter sido um pouco pior, até poderia ter sido alguma coisa diferente do que você imaginou, mas ela se adaptou como rio entre as planícies e planaltos.


Na verdade, o conceito de paz existencial é o menos importante; captá-la é a mágica. As meninas pararam de discutir. Já juntas arrumam as coisas. Sozinhas se entenderam. Não neguem, é um dos grandes desejos dos pais: que os filhos se entendam quando não mais precisarem ostentar obediência.



Não abusem da paz existencial; nem a almejem eterna.


Ela só é grande porque passageira.

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