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há um tesão que te aguarda...

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 6 de jul. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de out.



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Volto à fase de vésperas. A sexta-feira chega sem nem me avisar.


Semanas que nos trespassam como se quisessem alcançar a sua linha de chegada; como se competissem entre si. O tempo que por vezes te declara guerra; mira a tal nível de independência como se fosse possível existir sem os homens. É, se esquece o tempo quem foi seu algoz maior, o homem, o seu próprio criador; e vive há milhões de anos em segundos a desconcertar o homem infinitamente.



Houve um dia em que descobri que o tempo era corrido. Depois, percebi que o tempo não voltava; e que as preces divinas, as rezas ocultas e as tardes, por mais que envidassem esforços insanos, jamais poderiam reprisar uma conversa, um olhar, uma risada ou uma trepada das galáxias. Nalgum tempo qualquer percebi que a preocupação com o tempo já era sinal de que já não nos entendíamos tão bem de quando éramos crianças.


Numa tarde em que, por vezes, vejo o sol se pondo da minha sacada, olhando o Morro Azul, me lembro que na adolescência pretendi que ele acelerasse alguns dias para que pudesse enfim tirar minha habilitação ou entrar numa casa noturna.


Já hoje chegam sem avisar os sábados de compromissos; íntimos que somos. E eu nunca mais quis que o amanhã fosse hoje. E eu nunca mais questionei o tempo. É, a crônica nem era viajante; só tomou esse rumo porque a escrevo às vésperas.


Sempre há um tesão nos aguardando; foi o que tempo me ensinou.


Nada que se esvaísse, nada que se corroesse com o tempo ou nenhum átimo de instante abandonado é capaz de afastá-lo dos tesões que nos aguardam. Foi o tempo que me ensinou, numa manhã fria enquanto corria, chamou-me de lado e sussurrou: vá, logo chega! Lógico que eu perguntei: demora? Secamente me respondeu: o suficiente. Eu só não trago novidades para quem estiver dentro da Caverna, uma velha convenção que jamais fui capaz de quebrá-la; arrematou o filho da puta.


"Está vazio no vale do seu coração. O sol se levanta devagar enquanto você caminha pra longe de todos os medos. E todos os problemas que você deixou para trás.".


Termina aqui a primeira parte da crônica.


Foi só um parenteses antes de começar a escrever. Continuo no dia seguinte, neste dia maravilhosamente frio enquanto o mesmo show do Mumford & Sons, o melhor deles, de 2011, vai tocando. E, agora, ouvindo uma de suas canções mais lindas, Lover´s Eyes,


"E vou andar devagar, vou andar devagar. Pegue minha mão, me ajude no meu caminho.".


E eu escrevo com pausas; entre caos. Me demoro e me ponho a pensar. Continuou um tempo depois. Arrumo os potes de temperos e vejo como estão os presuntos crus sendo curados. Falo com minhas filhas. Abro a janela para deixar o frio entrar. E de novo escrevendo já não tenho pressa de nada, nem que a música se adiante, nem eu a volto, nem o frio quero que vá embora, nem desejo que a noite chegue ou que o sol brilhe pelas manhãs...eu vou contemplando tudo o que se passa.


E demora?


O suficiente.


Um tesão indescritível.

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