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nosso universo cultural

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 14 de mai. de 2019
  • 2 min de leitura

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Não perco a oportunidade de dizer para minhas filhas que elas não são o centro do Universo. A criança vai crescendo e percebe que alguns limites vão surgindo. Senão dos pais, da vida, das vicissitudes, do trabalho ou das ruas. Eis que fui para reunião e encontro cultural na escola da mais nova. Chegamos cedo. Andamos para matar o tempo. Sentamos para matar o tempo. Ao longe ouço uma mãe perguntando para a filha se ela estava com a blusa. "Mãe, você que ficou de pegar!". Áspera. Até aí, filho sendo filho. O que me chamou mesmo a atenção foi a reação da mãe: fez sinal de meditação com as mãos e uma vibração de paciência.


E foi assim que eu desembestei a falar com as minhas duas que se tivessem falado comigo assim teriam logo tomado um tapa na orelha (leia-se na prática um sermão de mais de dez minutos e uma rápida reação). E lhes disse: filhas, vocês ao longo da vida vão encontrar pessoas que acham que o Universo gira ao redor delas, egoístas, narcisistas, sem solidariedade, sem a capacidade de se colocar no lugar do outro, e essa garota aí é um belo exemplo de como tudo pode começar.


Vocês, filhas, são muito importantes, são meu orgulho e minha maior alegria, mas vocês não são o centro do Universo todo, não são a última bolachinha do pacote e nem sempre vão chegar e sentar na janela.


Aí entramos, ouvi a professora de Matemática, de Ciências, de Português e de Inglês. Gostei de todas elas. Me apaixonei pelo projeto de Português sobre Fábulas e descobri fábulas tortas de Dilea Frate. Gostei da firmeza e da serenidade da Patrícia, a professora de Português. Percebi que todas eram de "alta rotação" e minha filha me disse que todas elas são "alegres" e "engraçadas".


Talvez porque seus fundadores tenham começado como professores de cursinho, do épico CLQ de Piracicaba, onde não havia espaço para baixo astral. Puxam no conteúdo, exigem performance e desempenho sem perder a alegria. Fiquei feliz. Lembrei naturalmente das aulas que tive com Torigoi, Bartolo, Márcio, Juan, Marracini e do Zé.


Sempre acreditei no poder da didática alegre.


E percebi que todas elas tinham essa vibe. No intervalo comi pipoca com pimenta e na fila um Senhor deixou cair um suco de uva no pé de uma criança. Sem querer; sem firmeza nas mãos. Quiça um Alzheimer que se avizinha. Eu via a cena toda, estava logo atrás. Alguns minutos depois eu vejo a mãe passando ao meu lado esbravejando "tem gente que não respeita criança!". E limpava a perna da filha de nove ou dez anos, enquanto a criança fazia cara de dó, de coitada.


A mãe criticando o que não viu e a filha se sentindo o centro do Universo, de todos eles existentes em todas as galáxias, incapaz de perdoar e de perceber que cada um de nós é um Universo.

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