Parei de falar e ela quieta. Aí eu achei que deveria falar mais um pouco. Falei um pouco mais de como eu sou, de meus pais e algumas conclusões que tinha da minha infância. Aí ela me pediu para falar um pouco mais sobre a relação com meu pai. E eu falei. Falei. Falei. Parei de falar e ela quieta.
Aí eu olhei pra ela. Ela olhou pra mim.
Eu levantei as sobrancelhas e ela olhando pra mim. Tá de brincadeira ?! - pensei. Pedi um copo d´água. Tomei. Sentei novamente e ela não falou nada. Aí eu falei um pouco sobre meus cachorros. Fiquei meio invocado. Caralho, só eu falo.
Voltei mais uma vez. Ela recapitulou e me pediu que falasse mais um pouco sobre o divórcio. Falei. Parei de falar e ela quieta. Aí eu fiquei invocado de vez! Fiquei quieto. Vou sacanear essa psicoterapeuta. Fiquei quieto. Ela ficou quieta e olhou pra mim. Eu fiquei quieto e olhei pra ela. Aí vi que o silêncio fazia parte do jogo. Ah, fiquei quieto mesmo. Depois admirei a capacidade dela ficar quieta sem te peguntar nada. Depois dizem que os advogados são frios. Ela serenamente quieta. Eu quieto.
Aí já achei que quem falasse primeiro iria perder a brincadeira, tipo vaca amarela. Já faz um tempo isso, nem o blog eu tinha, devo ter ido a umas cinco sessões. Achei que ainda não era a hora de encarar Freud. Vieram uns amigos aqui em casa no sábado de Páscoa e o assunto terapia veio à tona. Mas até aí não era crônica. Acordei na semana passada de um pesadelo muito louco e esta manhã com outro mais doido. Lembrei da terapeuta. Sonho 1: subia a escada, com jardins laterais muito bonitos e floridos, alguns oráculos e escritos em mandarim ou japonês. Só se viam a escada, os jardins e, no topo da escada, o céu. Era impossível ver além do degrau mais alto. Hesitei.
Vou ou não? Subi mais um pouco. Quase cheguei no topo mas não vi o que tinha. Nossa, a vista deve ser animal! Foda-se, vou! Caralho, acordei num puta susto. Quando minha visão alcançou o fim da escada veio a porra de um tsunami e engoliu tudo e a porra toda debaixo d´água. Eu voltei, entrei numa gruta e segurei firme. O tsunami varrendo jardim, oráculo e querendo me jogar escada abaixo.
Cadê a saída, essa porra dessa água não vai recuar, eu não consigo respirar, caralho, vou morrer, puta que o pariu! Aí eu dei virada meio ninja e acordei. Puta que o pariu! Sonho 2: outro dia eu conto. Putz, se tivesse ainda na terapia na hora que eu tivesse no topo da escada eu iria parar de falar. Duvido! Duvido que ela não iria perguntar: hã...e aí? O que aconteceu? E eu: cuidado!! Um tsunami!!
Freud foi um gênio muito loco!
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