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a senhora baforenta

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 13 de abr. de 2019
  • 2 min de leitura

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Costfoto / Barcroft Media via Getty

Quando abri a gaveta eu me lembrei da senhora baforenta.


Difícil.


Ela marcou um estágio que tive; era a advogada a quem estava formal e academicamente submetido. Senhora baforenta não é um termo politicamente correto. Eu sei. Deixem-me ao menos expressar-me pelo vocábulo bruto; ao menos hoje. Pela expressão como ela me chegou às têmporas. Poderia logicamente chamá-la de idosa de hálitos suspeitos. Não seria eu mesmo que vos escreveria se assim substituísse habitualmente o grosso pelo fino. O bruto pelo elaborado. A cachaça pelo vinho.


Voltemos.


Dizia ela todo os dias: aquele que pergunta é ignorante uma vez. Quem não tira a dúvida é ignorante a vida toda.


A frase é linda. Max Gehringer piraria. Linda assim pra você que a lê. Mas baforada na minha orelha era sistematicamente agressiva. O fato é que nunca mais esqueci essa frase. Jamais saberei se pela sabedoria que expressa ou pelos hálitos suspeitos da senhora que me dirigia as primeiras petições. A questão é a razão pela qual esse conselho me chegou quando abria a gaveta. Veio antes na verdade. Minutos antes no computador lia a reportagem que exércitos mundo afora, o americano inclusive, vem se utilizando de mindfulness nos campos de batalha.


É o futuro meu amigo. Nunca a concentração no presente foi tão importante, a meditação na orientação de tua mente para seus melhores destinos. Tudo está tão rápido e tão instantâneo, dos relacionamentos ao macarrão, estamos tão dispersos em múltiplos objetivos, que sábios são os que vem vivendo intensamente o presente; trabalhar no trabalho, amar no amor, conversar na conversa, beber na bebida e aconchegar no aconchego.


Como se o presente fosse templo budista acima.


Tudo que está em volta ou é passado ou é futuro. Boa essa imagem, não?! Decidi neste domingo me jogar no mindfulness. Foi pesquisando as suas técnicas que me veio o conselho da velha baforenta. Vale tentar. Primeiro, reclamei. Mais uma idéia dos gênios que vagueiam por aí para te dizer o que é bom, como você deve viver. Deixei a ignorância de lado uma vez que os hábitos de mindfulness demandam de 3 a 5 minutos por dia.


Temos 4 minutos por dia. Respirar. Sopesar.


Mas não durante o trabalho. Antes provavelmente. Eu trabalhei com algumas pessoas que meditavam no horário de expediente. Eu sempre as achei desequilibradas. Uma delas foi no meu segundo estágio. Bati e entrei. Ela de olhos fechados e com as pernas cruzadas sobre a cadeira. Estou meditando, disse. Difícil. Os prazos comendo minhas canelas e ela meditando! Não fiquei muito por lá. Vazei depois de uma presepada.


O Budismo tem muito a ver com mindfulness. São as experiências milenares que nos chamam para o presente. Respire e deixe as idéias passarem. Algumas só respingam. Outras querem ficar e dizem para você não lutar contra essas...só piora...ai Meu Deus!


A imagem daquela senhora não me abandona.

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