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para revisão

  • Carlos Camacho e Luiz Otávio Duarte Camacho
  • 1 de dez. de 2018
  • 2 min de leitura

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Quando o blog completou um ano decidi renovar contrato por mais um ano, ou seja até vinte de outubro de 2019. Mas é agora ao final do ano calendário que torno pública uma reflexão. As crônicas perderam força; muita força, engajamento para usar uma palavra atual. As redes sociais ocuparam o seu espaço. São mais radiantes. Ler sobre aspectos pessoais do cotidiano se tornou entendiante diante de fotos e comentários instantâneos.


Dois fatores me animaram a prosseguir. Através das crônicas, pelo seu exercício semanal e rotineiro, eu me vi escrevendo também os contos. E, estes sim, hoje mais lidos do que as crônicas, são uma viagem fantástica ao mundo da criação. Uma sintonia fina se ajusta com o universo quando escrevo. Inventar e contar e inventar e contar....é demais! Outro é o registro das impressões para que mais tarde eu as lesse. Para que outros leiam em posteridade; e não sejam só fotos e memórias as lembranças de vida. Sejam histórias.


Pensei nisso ao postar texto a seguir, de meu pai. Não tinha blog na época. Estava num calhamaço de datilografados; separado sob a rubrica para revisão. Separei um deles, como o acaso escolhe a roupa da morte e o dia de nossas viagens:


"Domingo, 17 de março de 1985.



Ele demorou muito...



Houve quem morresse sem que o visse, houve quem chorasse muito, houve mesmo quem desse anos de vida por ele.


Mas, finalmente, ele chegou.


A natureza suspirou por ele. Os dias foram muitos e tantos, repletos de desencantos, as noites terríveis sonhadas em pesadelos, dormidas entre velhos travesseiros, amadas por romances antigos, fazendo sexo com mulheres antigas e já perdidas de tudo, mesmo e mais dos seus melhores encantos menstruais.


Muitas crianças viraram homens, outras até mesmo lobisomens, alguns mal chegaram a falar, com quem morresse em porões escuros e mal-cheirosos, treinando para serem múmias sem, ao menos, terem um Egito.


Ele tardava demais...


Tarde da noite, cedo de dia, final de tarde...era tudo igual.


Havia muito general...


E ele, por quem todos suspiravam, não vinha; parecendo ser um messias prometido e que deixou de lado seu povo. Achou que não valia a pena...


Mas, ele chegou, agora, para ficar.


Mesmo os relógios já estavam cansados de esperar, o tempo já ia embora cansado, o cachorro vira-lata já nem latia mais, os gatos vagabundos eram como moribundos...


E nem tinha mais graça a gente paquerar...E a morte parecia ser uma coisa de todo dia, salário de qualquer serviço, naqueles dias de bicho, onde tudo era antigo, virado para a face oculta da lua...


Mas que bom que ele chegou!


Mesmo nos bares a cachaça era amarga, a cerveja era choca, o colega um soldado...Mas agora, ele já veio...


Nem os bicheiros acertavam no veado..."


Estamos sempre em busca de algo, alguém. Um título, uma emoção. Um porvir que nos dê sentido. Um bilhete premiado ou um Messias.


Como o dia busca a noite.

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