Não se recomenda iniciar uma crônica, um texto, um conto ou um livro sem ter uma noção da estrutura, da ideia essencial, da mensagem afinal que se quer passar. A tão banalizada opinião, o tão vulgar tesão da criação. Uai, a escrita nada mais é do que o veículo de uma mensagem, de um sussurro ou de um grito: um trampolim que nos eleva nas criações para que depois a gravidade nos lance de novo ao mesmo patamar; ou ainda mais debaixo dele.
A treta surge quando você quer ou precisa escrever e não tem mensagem nenhuma.
Nada explode.
Nada implode.
Jack Kerouac escreveu o clássico on the road em três semanas; Contou as suas andanças pelas estradas americanas num rolo de papel com 36 metros. A mensagem às vezes é só a jornada. Às vésperas de um ano de blog, entregando uma crônica todo sábado, prevaleceu a velha máxima de que é começando que se termina.
O nada sempre existiu.
A folha branca, o branco do céu e o voto em branco. O discurso sem voz nem gesto. O silêncio e a folha branca são expressões do nada. São traduções do vazio; um intervalo entre as demandas. Até agora registrei o copo meio vazio. Vamos ao copo meio cheio. O nada que ardentemente desejamos que logo seja tudo. Nem sempre o tudo precisa estar cheio; é a folha branca, o silêncio no púlpito e a terra descoberta que nos permitem criar.
Não há como sobrescrever Dom Casmurro, recompor Yesterday ou sonorizar Carlitos.
Acharás azul nas telas de Luis Feito?
Cada vez menos há silêncios em nossas vidas. O vazio é o amanhã. O futuro que se apresenta de uma história não contada. O palco em que a banda ainda não subiu nem começou seu show.
Para invadir o nada eu botei um título qualquer. Até que o instante passasse, até que o telefone ou a minha música preferida tocasse. E no embrulho do dia uma faísca qualquer....O interior das coisas. Nem sempre a rua. O nosso interior que por vezes nos afronta de tão misterioso. Uma vastidão universal. Há sentimentos que se expressam somente pela poesia ou pelo grito.
O discurso com os nossos sentimentos vira música.
Ah, se acórdassemos aurora todos os dias....mas não; há uma paleta diante de nossos olhos já despertos e poucas pinceladas são certeiras. Poucas cores pré-determinadas na nossa tela da vida.
Você, defunto, não terá o branco vazio nem o preto desespero ao seu lado. Tudo será azul-desenho.
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