No dia em que levei minhas filhas para conhecer a Câmara Municipal de Limeira atualizei o meu estoque de ervas e temperos no final do expediente.
Com um pouco de paciência e perseverança você terá a conexão entre os assuntos. Não seja Toddynho para querer tudo sempre prontinho. Gergelim preto, pimenta caiena, calabresa, chimichurri, alho granulado, frito e em pó. Lemon pepper, óbvio. Este que, de fato, me levou ao empório dos temperos. Desconfie da cozinha que não tenha mix de pimentas e lemon pepper. Se tiver Edu Guedes ou Ana Maria desconfie também. Cozinha que se preze reserva um canto místico, ao lado dos livros de culinária, para as ervas, temperos, pós e especiarias.
Foi desse canto que eu tirei cravo, canela, pimenta e mostrei para a minha filha mais nova para explicar como a busca pelo prazer trouxe os portugueses para cá. As especiarias eram valiosas porque traziam sabor às carnes nem tão frescas. Não gostavam de Epicuro os Portugueses. Eu voltei um pouquinho só para explicar a ocupação de terra brasilis. Os índios, os portugueses, o pau brasil, os índios, os escravos, as Capitanias, os escravos, a cana, o café e os escravos.
Abri o mapa do Brasil.
Já pensou como administrar esse pedacinho de terra aí?
Compare o tamanho de Portugal com o do Brasil. Tudo para explicar a origem das Câmaras e Cadeias, sim estavam vinculadas na origem. Representavam o poder local e resolviam tudo por ali mesmo. Homens bons escolhidos entre os mais ricos e influentes. Juiz, vereador, escrivão e, no período colonial, cumprindo as Ordenações, prendiam e julgavam. Ou julgavam e prendiam. Sim, as Câmaras precederam as Prefeituras e inclusive recolhiam os impostos da Coroa. Regulamentavam as profissões.
Dei a ela o exemplo do Antonio que parou o seu cavalo defronte à venda do Juca. Os nomes não foram muito felizes, mas o fato é que o animal defecava e respingava nas frutas vendidas pelo Sr. Juca. Hipoteticamente, havia uma lei que obrigava que parassem os cavalos ao lado da Igreja e não defronte à mercearia. O Juiz foi chamado e, depois da confusão entre ambos, o juiz prendeu Antonio.
-E o que é lei pai?
-Bom, lei é uma regra obrigatória que vale para todos aprovada pelos representantes de todos; quase todos.
Essa simplificação é um começo de explicação.
Aí vem o exercício da escola e questiona qual a diferença entre as Câmaras Municipais modernas e as da época colonial? Amanhã você termina essa parte. Esse frango que ora degusto com lemon pepper é uma maravilha. Ainda mais com molho de pimenta caseiro...
Chegamos na parte da manhã na Câmara Municipal e na entrada expliquei que queria mostrar para as duas o que era a Câmara Municipal. Una que sólo hacía fotos mientras la otra sólo oía.
Sorte.
Passava ao lado uma jovem vereadora chamada Carolina Pontes, eleita pelo PSDB e em seu primeiro mandato. Não a conhecia. Uma simpatia só. Ouviu o que disse e prontamente se dispôs a nos acompanhar. Convenhamos, melhor do que conhecer a Câmara é fazê-lo através de uma vereadora.
Sorte.
Ela nos apresentou todo o prédio; das Secretarias ao Plenário. Nesse momento que o Brasil passanmais do que nunca a salvação virá pelo interesse das crianças na política. Nossa Democracia anda de joelhos, engatinha; ainda não sabe andar. A visita foi light. Não tive coragem, ainda, de tirar o brilho dos olhos delas ao conhecer o local onde se fazem as leis locais. Fiz questão de não comentar nada sobre as mazelas, os esquemas e as falcatruas que assolam a política brasileira.
Posaram para fotos e viram o painel de votação. Sentaram na cadeira da Carol e uma delas se viu do púlpito. Demos sorte. Além de simpática, é professora de Direito Constitucional e didática nas explicações. Obrigado Carolina, pela atenção, pela paciência, pela aproximação política das gerações.
Não, não joguei sal grosso na Câmara Municipal.
Usá-lo-ei para fazer a copa caseira mesmo.
Calma, ninguém se livra assim com facilidade da mesóclise, das burocracias lusitanas. Nunca a política brasileira precisou tanto que nos interessemos mais e mais por ela, a política.
Bom, não custa deixar cair um pouco de sal grosso ao lado da urna de votação...quem sabe assim a gente drena a maldição histórica que foi lançada com a formação dos brasileiros no Brasil: a corruptela do jeitinho.
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