Caro pé de maçã, permita-me falar diretamente contigo e de certa forma não seguir muito à risca os critérios para merecer estar plantado aí ao seu lado.
Nós não nos conhecemos ainda, mas como eu sou um brasileiro latino americano e você um inglês pé de maçã, apresento-me formalmente como Carlos Camacho - um velho amigo da Carol; desde os bancos escolares.
Foi ela quem descobriu que eu precisava usar óculos.
Esse fato me credencia a escrever-lhe, porque amigo da Carol é meu amigo. Eu não sei muito bem como ela fará isso fisicamente, enterrar posts do insta ao seu lado, mas não duvido que ela o faça criativamente. Ou, ao menos simbolicamente, pela transmissão de energia.
Eu nunca escrevi diretamente para um pé de maçã, ainda mais plantado em Londres, muito, muito, muito longe daqui.
Confesso que estou um pouco avexado, mas o prazo de minha crônica se aproxima e quando hoje pela manhã li o post em que você é mencionado me bateu uma estaca. Ela me bate toda vez que algo deva ser escrito, ou dito, ou viajado, através de minhas crônicas ou contos. Por detrás de cada texto meu há uma grande estacada no peito ou várias delas, estaquinhas que me martelam insuportavelmente até que eu escreva. Também nunca estive em Biro´s Mansion, mas devo admitir que gosto das fotos que vêm daí e da alegria da Carol toda vez que as posta. Rigorosamente, eu não poderia dirigir-lhe sequer uma palavra porque a Carol foi clara sobre amigos que tiveram bons momentos em Biro´s Mansion. Faltou-me o requisito da presença, mas há algumas regras que podem ser excepcionadas; contemporizadas. Eu nunca estive aí mas sinto que é uma questão de um tempo que não dista muito d`oje.
Você que nasceu pé de maçã mas brotou uma única vez até hoje talvez tenha a esperança de um dia brotar mais uma ou duas outras. Sei que você nasceu semente. E como tal almejou crescer caule, folhas e frutos; ser um orgulhoso pé de maçã. A Carol quando foi morar distante de seu país, mais o Biro, plantou uma semente; uma vida. Plantaram.
Então, você, como pé de maçã entende de esperança e um pouco de futuro.
Ainda não conheço a tua cidade, mas tenho escrito algumas coisas sobre o seu país, especialmente no período em que seus antepassados enfrentaram guerras do século passado. Hard times my dear apple tree...as you know. Elas, maçãs doutros tempos, certamente conheceram Churchill tomando chá de maçã. Vinho, champagne e scotch também, mas cá entre nós, encarar Hitler não foi fácil. Praticamente impossível sem umas doses.
Os ingleses são resilientes e não acho que seja o momento para falar sobre o atentado no Parlamento ontem.
Assim, você receberá vários bilhetinhos de inúmeras pessoas que aí estiveram passando bons momentos, boas histórias, boas taças de espumante e vinho. Exceto o meu. Minha notinha, esta crônica aqui, é uma semente da esperança que logo estarei aí, talvez o pretexto que precisava. Não se preocupe com a única maçã que você entregou para Biro´s Mansion, tampouco se ela tinha lá uns bichos dentro.
Nós humanos temos bichos muito piores que os teus; o bicho da intolerância que talvez seja o pior deles. O bicho da supremacia racial. A Carol não falou por mal. Humor inglês apenas... Talvez sua natureza não seja dar maçãs bonitas, mas esperança, contemplação, energia, para que você passasse algum tempo ao lado dela e do Biro. Nem toda planta precisa dar frutos saborosos para ser admirada. Mas toda planta precisa ser companheira e viver um bom tempo ao lado de quem a plantou.
Eu sei bem porque eu já plantei hibiscos aqui perto de onde escrevo e toda vez que passo por eles eu digo orgulhosamente que são meus filhos. Eles vingaram. Quando plantei tudo que eu lhes desejei fortemente com todas as minhas forças foi para que crescessem.
Repare.
Não desejei que fossem grandes, bonitos ou que dessem flores lindas.
Desejei apenas que crescessem apesar do sol escaldante e da chuva forte. Sementes que plantamos, como filhos que criamos, trazem sempre consigo a dimensão da esperança. Vê-las, vê-los, já plantas companheiras que atravessaram tempestades e intolerâncias é uma alegria que chamo de vida.
E, para finalizar, pois não sei se você é dado a muitas conversas e confissões, vê-lo crescer e ver a vida de amigos passando é uma das maiores alegrias que podemos ter. São especiais as pessoas que vemos vivendo, vemos o tempo lhes alimentando e lhes definindo. E redefinidas no talho diário.
É isso, conversamos mais um pouco numa próxima ocasião meu caro pé de maçã inglês.
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