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a casa tutti bene

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 11 de ago. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 26 de out.


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Fomos assistir no Espaço Itaú Fortunata, A casa tutti bene e La ragazza nella nebbia; todos do festival italiano de cinema. Ali em dois quarteirões da Rua Augusta é possível encarar uma sequência de filmes, tomar um vinho e comer bruschettas ou tapas; no Athenas e Sancho respectivamente. Dois bares no quarteirão seguinte em direção ao centro. O Sancho além de cerveja que leva o nome do bar tem uma garrafa de tempranillo a sessenta e tantos Reais.


Lógico que vocês sabem que Sancho é o fiel escudeiro de Don Quixote. O vinho que bebemos lembra o Toro Loco. Isso aqui tá parecendo nota da Vejinha. Pra encerrar a notinha: o atendimento do Sancho é muito bom e o ambiente de empório é imbatível. Eu fiquei positivamente surpreso com o movimento da Rua Augusta, um fervo. Não sabia que aquele pedaço continuava tão agitado, muita gente à pé. O cinema italiano é antes de tudo engraçado. É um humor muito particular, com piadas tão próprias que só são piadas porque feitas por eles mesmos, porque são espalhafatosos, gesticulam e falam o que lhes vem na veneta.


São intensos os italianos.


São filmes muito bons, mas o destaque vai para Fortunata, com uma trilha sonora americana, tocando Creedance Clearwater Revival e The Cure por exemplo, além das canções italianas mais para o final; o filme conta a história de uma manicure que batalha para montar o seu salão próprio. Disputa a guarda da filha com o pai e tem uma vida amorosa maluca, chegando a se relacionar com o psicólogo judicial de sua filha. O começo do filme é um dos melhores que eu vi na minha vida.


Não vou contar.


A questão da imigração está muito presente; permeia o filme e a Europa de hoje. Os chineses são agiotas e os muçulmanos se viram para Meca na vista de sua janela. Não se iluda com o humor. O filme é carregado do ponto de vista dramático, todos os personagens vivenciam problemas emocionais que lhes travam a vida. Vale dizer, as problemáticas passadas, os traumas, as frustrações emocionais, não se encerram como uma fase na vida dos personagens senão os constituem; os definem porque perenes em sua existência.


É a dinâmica da vida capenga que alimenta o filme dramaticamente.


O seu amigo, Chicano, um tatuador americano, sexualmente indeciso, com quem quer abrir o salão, tem a mãe, uma atriz que brilhou no teatro sob o manto de Antígona, com Alzheimer. Fortunata viu seu pai morrer na praia doidão, drogadão. Nunca superou. O psicólogo judicial cancela as entrevistas com a filha da Fortunata porque se envolve com ela. Declara seu amor numa cena que mais demonstra seu desequilíbrio do que explosão de uma paixão aflorada.


Eita, que crônica chata!


Vou terminar amanhã.


Tá meio carregada.


Dá uma pausa vai, bota um som. Joga na loteria e volta, sábado de manhã, dá tempo de comprar rúcula fresca no Mercadão e jogar na mega-sena. Intriga, irrita, porque os personagens não se libertam de seus traumas, das porras dos problemas que fazem com que suas vidas sejam eternamente escorregadias.


Vidas patinantes. Vidas-patinetes.


Até que alguém dirigindo o patinete sobre o qual a vida deles se é impulsionada, assume a direção.


Chicano empurra a mãe no rio.


Fortunata perde a guarda da filha.


Seu ex-marido é rejeitado pela filha. Fortunata, reparem no nome, demora a perceber que seu verdadeiro tesouro é a sua filha e não a sua correria insana. Logo se vê que ela corre dela mesma. Não para comprar um salão. Contam demais com a sorte na vida. Jogam na loteria porque afinal devem achar que tudo na vida é destino. Não perceberam que sina é cinquenta por cento e não toda a sorte da vida.


Porque genial comporta repetição.


Não perceberam que sina é cinquenta por cento e não toda a sorte da vida. Bom, lógico que essa última frase é polêmica, mas aí amigão, amigona, você calibra isso aí do jeito que tu queres e não precisa nem causar. Joga mais pro destino. Joga mais pra sorte. Ou tira tudo dá sorte e deixa contigo cem por cento do destino.


Não tenho nada com isso.


É incrível o cinema italiano. Ainda bem que depois vem A casa tutti bene. Tão italiano quanto La vita è bella. E desse aí eu meio que tô com preguiça de contar senão que vale a pena assistir. La ragazza nella nebbia é bom, mas muito Netflix. Quando se assiste depois dos outros dois meio que fica pra trás. Bom mesmo é a milenar tempranillo no intervalo rápido; bom mesmo é perceber que amadurecer antes que os outros, temprano, nem sempre te transforma num vinho ruim.


Às vezes só virando toro loco para enfrentar os traumas mundanos. A vida é o toureiro querendo te espetar meu amigo, minha amiga.


Não percebeu ainda?




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