Enquanto se acalma o dia e a pimenta vira geléia, em cima da hora, escrevo a crônica do próximo sábado. Dá um trabalho do cão escrever esse trem todo sábado.
Qual o limite entre entre hobby e trabalho? Deixa pra lá!
Bati o recorde negativo. Menos de três dias para o sábado. Sem estoque. Ah, se o blog fosse um negócio estaria bombando. Estoque baixo, previsão de leitores redonda, leituras à vista. Deixa pra lá. A receita eu peguei no camping e adaptei, mineira de Belo Horizonte, que fez no disco de arado o melhor feijão tropeiro que comi na minha vida.
É a quarta vez que acampo com as minhas filhas. No primeiro puxei uma lona amarrada no carro. Na barraca de dois dormiram três. Colchão de ar que esvaziava durante a noite. Faltou cobertor. Fogareiro de uma boca. Macarrão e sopa para os jantares.
Sobreviveram. Arrisquei. Não arredaram.
Se passarmos de três acampamentos e ainda sim vocês quiserem acampar aí sim eu compro uma barraca. E uma faca para cada. Em julho passado estava eu lá com minhas tendas e a fogueira. De repente chega o Gilmar com um feijão mineiro. E uma porção de churrasco. Olhei pra sopa. A sopa olhou pra fogueira. Lógico Gilmar, aceito. Contei essa história várias vezes saindo de lá.
De volta este ano, quem eu encontro? Ele me chamou, não o reconheci de imediato; pelo rosto. Era noite quando ele me ofereceu o feijão, antes que você faça comentário idiota. Quando ouvi a sua voz, o sotaque mineiro, aí sim, lógico que eu lembro, o do feijão, isso, ele disse, Gilmar. Confidenciou-me depois dando risadas entre umas doses de uma legítima cachaça mineira que ele nos olhou e pensou, vou lá ajudar o rapaz até bem intencionado, mas tá num desespero só.
E demos risada. Essa cena mostra o que é o campismo. Mostra como somos. Não é todo camping que tem estrutura bacana de banheiro. É preciso garimpar e receber as dicas dos mais viajados. Os grupos de campistas que se formam se unem pelas redes sociais. Há vários. Não dará tempo de perguntar para a Mariana, conhecida dos bancos escolares e especialista em turismo como o campismo é visto pelas políticas públicas próprias.
Eu só acho que o brasileiro acampa pouco.
Acho que nesse vasto Brasil, deveria ter incentivo tributários para o setor, desde a comercialização de itens próprios até os que utilizam a terra para a prática. Enfim. Dá trabalho mesmo montar e desmontar acampamento, mas é uma ótima oportunidade para estimular, sobretudo para as crianças, colaboração. Afinal nada está pronto, momentos únicos ao redor da fogueira, lógico que com marshmallows e, acima de tudo, a proximidade com a natureza. Ah, a Paula do tropeiro é mulher do Gilmar.
Fiz a geleia de pimenta com suco de laranja e suco de uva naturais em vez de água. Uma pitada de gengibre em pó e meia dose de cachaça mineira. Sim, subtraída do Gilmar quando ele se distraiu na churrasqueira da costelinha temperada pelo Tio Jack, o mago dos campings. Ele que promove o entrosamento da turma, monta o projetor para as crianças assistirem filme ao ar livre e tempera com técnicas místicas os drinks para as mulheres.
-E aí, vão querer acampar de novo?
-Lógico pai.
Provavelmente no nosso quinto acampamento vá para as cidades históricas das Minas Gerais, em Tiradentes há um em que a Maria Fumaça passa quase dentro do terreno. Talvez o Gilmar seja um agende secreto do Governo de Minas que divulga as maravilhas mineiras pelo Estado de São Paulo.
Como é bom o cheiro de geleia de pimenta na panela de ferro enquanto o mundo gira e o tempo queima a tua vida, queima a lenha nas brisas de julho. Como é bom esse Brasil que os brasileiros desconhecem. Ah, se eu fosse Presidente, iria inundar este Gigante de trilho e trilhas.
Vou ver a geleia ainda insonsa.
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