top of page

o boi falou!

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 14 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

ree

Ontem foi publicada Zurique; ontem foi sábado. Hoje é domingo e até aqui eu tomei o teu tempo para falar absolutamente nada. Foram de dez a quinze segundos de sua vida desperdiçados com absolutamente nada de relevante.


Nada de interessante. São três linhas que não transformarão a sua vida, não te darão idéias nem revelações sobre a sua existência; muito menos alguns dólares a mais em sua conta corrente. Se você somar os dez a quinze segundos iniciais com estes mais que acabo de lhe arrancar são trinta segundos inúteis de sua vida. Presumo que sua vida seja intensa. Trabalho, casamento ou namorado, filhos ou sobrinhos. Ou namorada, lógico. Ou caso seja solteiro, sem filhos, sem parentes, largado no mundo, talvez roube de você o tempo de seu treino de corrida ou de seu hobby preferido. Talvez lhe roube alguns minutos de sua depressão, afundado no quarto sem televisão ou música, sem perspectiva sobre o amanhã, o porvir.


Eu também me canso da vida às vezes.


Mas só cansa da vida quem vive. Como se corre cansa. Como se pedala cansa. Como se nada cansa. Cansar é normal. Descansar quando estiver cansado é normal. Eu descanso entre outras coisas jogando conversa fora. Jogar conversa fora quer dizer que você conversa só pelo prazer da curiosidade; de passar o tempo. Você não bajula seu chefe nem precisa impressionar ninguém.


Você fala, você conta e você escuta. Você pergunta. Você se interessa pelo alheio. Eu fui jogar conversa fora nesta última sexta-feira na casa do Felipe e da Marina. Pausa. Não se trata de um qualquer. De qualquer Felipe. A mãe dele foi companheira de maternidade da Elis Regina e, quando precisou, ela o amamentou.


Tomou o leite da Elis Regina. Depois nunca mais a viu acho eu. Não sabemos exatamente as consequências dessa dose que ele tomou; sabemos que ele não é cantor. Continuando. Chegando lá encontramos o Bernardo e a Paula. Vinho. Gim. Conversa fora. Tantos petiscos espalhados pela mesa que fazia sorteio antes de escolher. As coisas já me fascinaram. Hoje as pessoas me fascinam.


Numa dada hora divagando sobre o Brasil, sobre as cidades, soube que Campinas foi uma das últimas cidades a efetivamente abolir a escravidão. E, inclusive, faziam os Senhores que os escravos trabalhassem nos dias santos. E os escravos se indignavam. Os Santos de todos os Deuses certamente se indignaram. E os barões do alto de seus chicotes impunham trabalho severo aos escravos.


Um dia, porém, rezam as histórias de campo e torrefação que o boi, olhando tamanha desfaçatez com os escravos e santos de todos os Deuses, falou que ele não iria trabalhar. Hoje, dia santo, não! O boi falou. O animal falou. Os senhores do café e do chicote da elite ouviram o boi; assustados! Encerrou-se assim, depois que o boi falou, a escravidão nas Fazendas de Café de Campinas. Escrevo sem Google até agora.


Aliás, todos os escritores deveriam especificar em seus textos qual a porcentagem de utilização de Google utilizada em seus textos.


Não sei bem o motivo, mas imagino que seja um critério de discernimento e inclusive objeto de cotejos dos intelectuais. Ele guga demais! Ele é autêntico, dificilmente seus textos são gugados. A conversa fora é a mesma perda de tempo que você teve ao ler as linhas iniciais dessa crônica. Mas aí a conversa nem sempre é jogada tão fora assim.


Descubri o Kefir. Como você não conhece? Pois é. Não.


No começo achei que fosse o nome do escravo que ouviu o boi, mas é só um fungo que transforma leite em iogurte. Vou jogar um pouco de Kefir sobre as minhas crônicas para ver se as transformo em matutinas; naquele agridoce que nos atrai.


Vou passar a jogar crônica fora também...

 
 
 

Comentários


@2025 - Todos os Direitos Reservados - ANTES QUE EU ME ESQUEÇA - CRÔNICAS E ESCRITAS - From WWEBDigital

bottom of page