Vou me mudar para o mundo da fantasia.
Um mês.
Não mais do que isso.
Eu volto. Devo voltar.
Ando avesso.
O povo brasileiro, os clientes choramingões e a crise política na Itália; na Espanha. Há um tédio intrínseco nesta cidadela; onde A. J. Cronin começaria um de seus romances modernos narrando a difícil trajetória de um ativista disposto a mudar uma sociedade corrupta. Vou me mudar para o mundo mágico; não de repente. Tomo os patins de Fred Astaire emprestados e deslizando com Ela na praça dou risada para os compromissos. Sapateio levemente e já nem lembro bem onde estava antes.
Tropeço na grama e caio pelo túnel sem fim de Alice nos País da Maravilhas. Ainda lembro do preço do dólar mas logo me esqueço ante a encruzilhada do Chapeleiro e da Lebre de Março. Quem somos nós nesse mundo de loucos senão loucos idem? Atenção especial para esta última expressão. Meu revisor oficial está de licença. Nomeio por ora para lotação temporária o ilustre prof. Marcel Camargo, a quem rogo aceitar o encargo. Volto.
Quem somos nós nesse mundo de loucos senão loucos idem?
O preço do Euro!
A realidade preta e branca e eu entro mesmo para o filme do Chaplin seguindo a dica do Chapeleiro. Surdo e mudo por quarenta e cinco minutos me enfio nas trincheiras da Grande Guerra e acabo parando no sanatório dos tempos modernos. Há um surto de pseudo demanda derivado das tranquerolas digitais, das teias sociais que lhe suprimem os minutos de devaneio. Mas não os meus. Não é longe o Mundo da Fantasia. É logo ali. Despeço-me formalmente da gravata numa sexta-feira e tomo os túneis kafkianos junto a Josef K.
Transformo-me num inseto e viro poesia de Cabral entre os canaviais. Morro e me encontro com Raul.
Viro morte, volto vida, Vida e Morte me encontro com Severina e com ela danço forró ao som de Luis Gonzaga, O Viajante.
É muito fácil se mudar para o mundo da fantasia. Não precisa de visto nem passagem. Pouca bagagem. É sempre mais perto do que você imagina. Não precisa de Waze nem de Maps, umas poucas ruas de imaginação e você logo poderá voar. Sim, há sempre o perigo de não querer voltar. De querer só voar sobre a cidade, os parques e dar um pulo no buraco negro.
Não é mais perigoso do que viver! E, digo, menos perigoso do que morrer. Ah, lógico que no mundo da fantasia você pode morrer. E, ainda, ressuscitar.
Você brinca de viver e morrer.
Dê uma morrida qualquer dia e pense se há algum arrependimento que lhe bata como o martelo de Thor. Ou alguma risada que te gargalhe como a do Coringa. Não precisa de indicação para entrar. Nem Face ou Insta. Só de imaginação. Pensando bem, a lha da Fantasia talvez seja mil vezes melhor que o Mundo da Fantasia. Nem preciso estar de camisa florida; mas de tez limpa. Que bom que um mês no mundo da Fantasia é um minuto do relógio aqui em Anastasia, onde moro e vivo atualmente. E, depois, me contem como foi a sua viagem pra lá.
Cuidado para não ficar perdido, indo e vindo, a todo tempo, a toda hora e só contando lorota.
Não confunda, pelo Santo Daime, o teu mundo de azia com o Mundo da Fantasia.
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