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C'è un'Italia dentro di me.

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 26 de mai. de 2018
  • 3 min de leitura

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Às nove badaladas do sino os goles de Montalcino se encarregavam ainda de dissipar a infusão que é chegar na Itália pela primeira vez. De Milão vim direto para Brescia, ainda ao Norte, ainda na Lombardia; onde escrevo.


A estrada mostra um país moderno, apagaram-se os traços das cinzas e do sangue do solo. Chego na cidade. Colinas, a formação típica de ruelas, os monumentos antigos, as bicicletas e as lambretas desenham rapidamente uma típica cidade Italiana. Vielas e sacadas curtas. Flores entre labirintos. Pedir um café sem ter que acrescentar curto é um alívio.


Ruínas e igrejas antigas. Metrô sem catraca, valida-se o ticket por consciência. Sim, há fiscal, mas é só figurativo, apenas para manter alguma presença do Estado. Desço na estação do terminal central e dominam africanos e marroquinos. Eles não intimidam, não avançam, não falam comigo. Nem contigo. Falam entre eles. Eles perambulam e falam ao celular. E como falam ao celular. Todos se conhecem. Onde há um há um milhão. É a mesma sensação de andar nalguns locais do centro de São Paulo.


Volta um pouco. Para. Metrô para uma cidade de cento e noventa mil habitantes. Quase 14 quilômetros de metrô. Não vou comparar com o Brasil. A interação do homem com a cidade é contagiante. Anda-se pela cidade cujas ruelas bloqueiam os carros. Entro na Igreja não como um ato de fé, mas com a curiosidade histórica. Entrei na Parrocchia dos padroeiros da cidade. Soube depois. O órgão é de tubos, meu pai era louco por eles.


- Pai, que música chata!

- Filho, não fala besteira, isso é órgão de tubo! Larga mão de ser ignorante!


E eu ria! Os Beneditinos gostam desses órgãos; deve ser por causa dos cantos gregorianos. Os empórios, os pães, os expressos e as sorveterias. Depois de um dia, me cadastrei no sistema de bicicleta compartilhada. Não só me cadastrei. Andei também. De repente a brisa me fez pedalar mais rápido entre as ruelas e, como num ataque de paulistano, buzinei.


Lembrei da cena de A vida é bela, quando o protagonista desvia das crianças e atropela a moça com a qual se apaixona. Os demais de bicicleta olharam pra mim, logo viram que eu era turista. Estava de bermuda e camiseta azuis. Um tênis vermelho. Um par na verdade. Só eu na cidade inteira estava de bermuda. De repente passei a andar pelas ruas procurando alguém de bermuda. Não achei dentro dos quarenta e cinco minutos livres que tinha.


Os italianos, mesmo sob sol de vinte e dois graus Celsius, pedalam de calças; jeans inclusive. Continuo amanhã. As mulheres. Que espetáculo maravilhoso vê-las andando em bicicletas rosas, azuis, verdes, arrumadas para o trabalho, para uma festa. De calça preta de linho, de camisa branca. Lindas. Um charme indescritível. Quando as vejo percebo como...como....A vida é Bela. Sou capaz de passar uma manhã inteira sentado na praça para vê-las passar de bicicleta entre pedestres e carros.


Tomam Spritz como chopp. Perco-me entre tantas praças e cafés no centro histórico. Converso com um brasileiro que mora em Zurique, Suíça. Conta-me o sistema que há para desestimular o uso do veículo. Mostra-me a teia de transporte público sobre a cidade alocada na ponta do Zürichsee. Não vou comparar com São Paulo nem Porto Alegre.


À noite no bar onde sento há uma festa de comemoração ao Doutorado. Há uma canção típica que os italianos cantam em homenagem à conquista do título. Admiro quem vira Doutor. Admiro quem abdica de seu tempo em benefício da produção do conhecimento. Eu não penso em fazer Doutorado, gosto da produção indisciplinada de histórias.


Havia uma Itália dentro de mim.... Meu sangue é molho de tomate. Minha voz se ajusta ao tom local. Agonia-me não saber falar italiano. Tranquiliza-me ouvir o diálogo local. A cada palavra que ouço me aproprio de seu tom e a repito várias vezes até que ouço outra expressão para substituí-la.

C'è un'Italia dentro di me.

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