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A revisão que nunca foi feita...

  • Texto: Carlos Camacho - Luiz Otávio Duarte Camacho
  • 21 de abr. de 2018
  • 2 min de leitura

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A morte sempre interromperá.


Formalmente o verbo interromper é transitivo direto. Eu o transformei de propósito em intransitivo. Eu não. A morte. É ela a única maneira de transformar o verbo transitivo direto em intransitável. Sabemos que ela interromperá, mas não sabemos o que exatamente. Se quem interrompe sempre interfere em algo, no caso da morte desconhecemos o seu objeto.


Um pensamento, uma existência física, uma trepada, um livro, o sofrimento, a ansiedade, um sono profundo. A morte sempre interromperá. Ela só transita quando nós descobrimos o que exatamente. No caso do texto abaixo, escrito por papai com uma anotação "p/ revisão", ela interrompeu a finalização do texto. Foi escrito num Domingo quando eu tinha 10 anos, aos 1985. Jamais revisto, é visto hoje por mim como posto e acabado. E, assim, faço a concordância verbal como deve ser. A morte interrompeu a revisão do texto.


Esse poder da morte de transitar pessoas e verbos universalmente....


"Ele demorou muito...houve quem morresse sem que o visse, houve quem chorasse muito, houve mesmo quem desse anos de vida por ele.


Mas, finalmente, ele chegou.


A natureza suspirou por ele. Os dias foram muitos e tantos, repletos de desencantos, as noites terríveis, sonhadas em pesadelos, dormidas entre velhos travesseiros, amadas por romances antigos, fazendo sexo com mulheres antigas e já perdidas de tudo, mesmo e mais de seus melhores encantos menstruais. Muitas crianças viraram homens, outras até mesmo lobisomens, algumas mal chegaram a falar, como quem morresse em porões escuros e malcheirosos, treinando para serem múmias sem, ao menos, terem um Egito.


Ele tardava demais...Tarde da noite, cedo do dia, final de tarde, era tudo igual. Havia muito general...E, ele, por quem todos suspiravam, não vinha, parecendo ser um messias prometido e que deixou de lado seu povo. Achou que não valia a pena...


Mas, ele chegou, agora, para ficar.


Mesmo os relógios já estavam cansados de esperar, o tempo já ia embora cansado, o cachorro vira-lata já nem latia mais, os gatos vagabundos eram como moribundos...E nem tinha mais graça a gente paquerar...E a morte parecia ser uma coisa de todo dia, salário de qualquer serviço, naqueles dias de bicho, onde tudo era antigo, virando para a face oculta da lua...


Mas que bom que ele chegou! Mesmo nos bares a cachaça era amarga, a cerveja era choca, o colega um soldado...Mas, agora, ele já veio...Nem os bicheiros acertavam no veado..."


Antes que eu me esqueça, interrompo os espaço branco com códigos imaginários que, decifrados, nos interrompe o tédio de uma folha branca.

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