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...se diz maravilhosa...

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 31 de mar. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 25 de out.


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Acabo de voltar da feira aqui em Botafogo, Rio de Janeiro. Agora que minhas crônicas tão gringas também, não custa dizer onde é. Não comprei nada. Diferente das feiras paulistas numa ponta dela tem uma barraca de tapioca. Na outra a do pastel. As paulistanas são ponteadas e finalizadas sempre por barracas de pastel com potes de vinagrete.


Os cariocas botaram tapioca numa ponta e na de pastel maionese rosa, verde e tradicional. É bom dar uma volta e observar meu cotidiano fora de meus locais habituais. Faz quase dois anos que venho ao Rio com frequência, a trabalho, a lazer. Chego nessa sexta pela primeira vez após a intervenção militar federal e logo em seguida à execução da vereadora Marielle Franco. Quando postei que estava indo ao Rio vieram os comentários para tomar cuidado com os tiros de fuzil. Amigos de fora daqui receavam vir para um casamento marcado há mais de um ano.

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A percepção de violência no Rio para os não cariocas é real ou midiática?


Com família aqui, ouvi desde criança que é mais midiática. Noto, agora, os mesmos cariocas dizendo que é mais real do que midiática. Quem já veio para cá nos jogos olímpicos sabe do que estou falando. Andar pelo Rio sentindo-se seguro é uma sensação maravilhosa. É, de fato, uma cidade maravilhosa. A sua beleza natural, seu estilo despojado e folgado dos cariocas já não entorpecem a violência, deixando-a em segundo plano. Antes era um Estado com dinheiro e uma cidade violenta. Hoje, a violência ganhou um novo patamar, o ataque institucional. Prefeitura e Estado estão quebrados.


O carioca reclama como nunca, alguns abandonam e vão para São Paulo, para o interior. Levam seus filhos. Quando viajo sozinho fico em Hostel, cruzo gringos e locais. Ontem conversei com uma sul coreana que, em trinta segundos de conversa, disse me que o Rio é muito perigoso. Posso andar sozinha pelas ruas até que horário? Não passa outra coisa nas rádios e na TV que não seja a violência, a morte da vereadora e de seu motorista. Discutem violência como algo novo.


Assusto-me vendo que os cariocas estão assustados com a violência, como se fosse algo novo. Como se descobrissem ontem o sol nascendo do Arpoador. Eu não consegui ver o jornal. Tive o mérito de começar a discussão e deixei os três cariocas quebrarem o pau. Um radicalizou. Outro não tem dúvida que os problemas do Rio são as comunidades dominadas pelo tráfico e pela milícia. Não seria o Cabral?


Assustei-me de ver três cariocas discutindo a violência e levantando as mesmas discussões do ano em que eu vi o Bateou Mouche matar cinquenta e cinco no mar. Sem Royalties do petróleo utilizaram jogos olímpicos e a Copa para saquear o Estado. Dos estádios às marmitas dos presidiários. Até tornozeleira eletrônica superfaturaram. Ontem, depois de um dia exaustivo de trabalho, em que grande parte do problema me vem pela longa e tortuosa espera de uma autenticação fazendária que deve ser emitida pela Sefaz (Secretaria de Fazenda) do Estado, deixei a balada de lado e à pé passei por um lugar novo chamado House of Ink.


Uma casa de cultura, a rigor. Inaugurada já querendo ir para......São Paulo. Provavelmente na Vila Madalena, embora goste muito da Mooca me fala um dos sócios. Carioca é criativo. Arrasto-me mais alguns metros e paro no Cabidinho, onde se comem as famosas empadas gigantes que circulam pelos bares cariocas. Incríveis. Não se vê o exército aqui na Zona Sul, estão lá na Vila Kennedy no balão de ensaio. Ver os cariocas admitindo que a coisa tá feia me preocupou.


Acabou o romantismo; nenhuma beleza é maravilhosa para sempre. Não tomei tiro de fuzil, mas acabo de tomar a picada de um mosquito de pontinhos brancos e já me lembro que mosquitos estão pegando geral. Tiros e mosquitos estão pegando geral...


Séria demais esta crônica. Alternemos um pouco o tom. Somos capitalistas. É preciso vender. É preciso consumir. Não quer gasolina aditivada? Não vai beber nada? Por mais dois reais esse drops incrível?! Usar a expressão drops entrega a idade. Ontem eu tive a maravilhosa sensação de não marcarem a recusa da bebida na minha comanda no almoço. Há muito tempo não bebo nada junto com a refeição.


- Não, obrigado.

-Empresta a tua comanda para eu marcar que eu já te ofereci bebida. E fazem um "x". Isso me irrita sobremaneira. Já tentei de tudo. Já recusei peremptoriamente, não empresto! Já falei que não precisa marcar, aí vem outra mosca e pergunta, alguma coisa pra beber? Pois ontem, num restaurante self-service na Rua da Quitanda no centro do Rio eu disse:

- Não, obrigado, não bebo nada. Niquiqui eu fui tirar o papel do bolso para o cara marcar ele se virou e foi embora. Ah, não aguentei. Chamei-o de volta.


- Viu, você não vai marcar na minha comanda que eu não quero beber nada?

- Não.

-Por favor, pode marcar. Faço questão.

- Não temos esse hábito.


Paulistas paranóicos; doentes. É. O fardo sempre aparece, aqui ou ou lá. Para nós, para o cidadão, para o povo. Amai-vos entre as gerações. Amai-vos brasileiros. Antes que nos esqueçamos....que cruzadas sejam as pernas das moças sentadas e não nossas mãos entre os braços.


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