na natureza selvagem.
- Carlos Camacho

- 17 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de out.
-Não acredito! Não pode ser, quantas vezes você assistiu?
- Ah, infinito. Eu até tatuei no braço uma frase. Vamos apostar quem assistiu mais vezes? Não pode mentir.
- Ok, não pode mentir. Você escreve no papel, eu também, depois trocamos os papéis.
- Sem mentir. Vai mentir? Então nem vamos fazer....Sem mentira.
Peraí, vou colocar a trilha sonora do filme antes...."Society, you're a crazy breed. Hope you're not lonely without me". Não vale mentir. Vamos saber quem mentiu. E assim jogamos os papéis sobre a mesa, não, sobre o balcão do Braza Espetinhos, um quadrado de, sei lá, quinze metros quadrados mais as mesas sobre a calçada na Praia Grande de Ubatuba, perto do mercado do Zezinho, de onde saem os trenzinhos.
Do lado de fora o Alê, namorado da Larissa, com quem converso, pilota a churrasqueira. O ambiente é agradável. Bem cuidado. Dois freezers nos entregam long necks estupidamente geladas. Quem coordena as bebidas e a playlist é ela, a Larissa. Para os empolgados ela saca tequila do armário à esquerda dela. Embaixo.
Conheceram-se, apaixonaram-se e montaram o Braza Espetinhos. Logo que se vê que ali tem amor; e muito trabalho. Caprichado. Mas o melhor mesmo, além de beber e comer espetinho é conversar com a Larissa.
Ela não sabe até ler essa crônica, mas eu vou lá para conversar com ela aí aproveito para beber e comer espetinho. E dar risada. É a tal da empatia pelo lugar e pelas pessoas. Empatia não se explica, é cósmico. Que nem a velha bruxa que meu pai chamava pra fazer o fumacê. Olhei e não desceu. E aí papo vai, papo vem, falamos sobre o filme. Apostamos. Para ela, a parte alta do filme é a ideia de que "a felicidade só é verdadeira quando compartilhada", a mim me encanta no filme a jornada de autoconhecimento, o desprendimento e o risco que ele assumiu. Enquanto escrevo esta crônica o filme corre na tv ao lado.
Toca a trilha sonora de Eddie Vedder. Neste exato momento, ele, Alexander Supertramp, se recusa a fazer sexo com uma garota mais nova. Conversam e saem para passear. Cantam juntos "Angel from Montgomery", numa das cenas mais bonitas do filme; verdadeiramente emocionante. Não contente com o filme, fui ler o livro escrito por Jon Krakauer, um escritor que já foi colunista da GoOutside e escreveu sobre Christopher McCandless para a revista, o jovem protagonista da história real. Outra grandeza.
E ali há naturalmente detalhes e especulações sobre a sua sexualidade, sobre a sua ignorância ao não levar instrumentos básicos de sobrevivência, enfim, um mergulho na aventura dele.
"Chega uma manhã em que sinto que nada mais precisa ser ocultado, Ir embora parece surreal mas meu coração nunca ficará longe daqui", no ceiling, Eddie Vedder.
Christopher largou seu carro no deserto, queimou dinheiro, deu a sua única moeda para um senhor fazer a sua ligação e trabalhou no McDonalds. Nadou pelado, tomou banho no irrigador do campo e aprendeu a pilotar trator. Tinha dificuldade de se adaptar à sociedade, na verdade, a estrada lhe ofereceu a fuga de um ambiente familiar hostil e da maldade das pessoas. Suas matérias preferidas eram as que estudavam a pobreza na África.
Foi em busca de sua jornada. Viveu a busca. O fim é trágico.
O fim é difícil.
A beleza está na jornada.
Larissa e o Alê seguem a sua difícil jornada em manter um negócio no Brasil. Eu não saio de lá sem dizer o quanto gosto de lá. Aliás, não saio mais de nenhum lugar sem dizer o quanto gostei de estar ali. Nem os espetinhos nem a localização; é o amor e a boa vontade, o carinho com que recebem as pessoas que os diferencia. A cerveja está gelada porque querem que as pessoas se sintam bem. Eu nunca tomei uma mais ou menos.
O lugar é aconchegante porque querem que as pessoas se sintam bem. Sabem das histórias dos clientes. Lembrou da nossa. A natureza humana é selvagem. Viver no Braza brasileiro é selvagem. Lógico que vocês querem saber quem ganhou a aposta, eu ou a Larissa. Pois é. Eu não vou contar.
Quando forem a Ubatuba, passem lá e perguntem para a Larissa. Antes que eu me esqueça, e antes de perguntar quem ganhou, digam-lhe a verdade hein sobre como tomaram conhencimento do Braza.



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