top of page

sleep on the floor

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 10 de fev. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de out.

ree

No intervalo entre trabalhos, no recesso do stress, das controvérsias, brigas e ressentimentos, de dívidas que são cobradas, contratos que são descumpridos, direitos que são vilipendiados, casais que se desentendem, enquanto tarefas outras vão sendo feitas ao som de The Lumineers. Detenho-me na música que abre um show deles na KEXP, de julho de 2016. Leia ao som de Sleep On The Floor.


Esta crônica será de extremos. A música será a sua experiência agradável, o texto será o inconveniente que lhe penetra sem pedir licença; o estragado que não lhe descerá no dia. Nem sempre o ruim pede licença. Nem sempre a dor avisa antes. Nem sempre a desgraça te dá sinais. O carro do motorista bêbado pode atropelar seu tio enquanto ele sai da lotérica com o bilhete sorteado. E você comemora. O padre da tua Igreja pode ser pedófilo. O prefeito da tua cidade rouba o seu dinheiro, aquele que você paga através de seu imposto, do mesmo trabalho que você executa enquanto poderia estar com teu filho ou tomando Aperol na Ilha do teu amigo milionário.


O corrupto rouba o teu tempo, seu idiota, não teu dinheiro.


Enquanto você viaja tua esposa transa com o personal trainner dela e você acha que não. Enquanto ele viaja a trabalho para visitar fornecedores a reunião se dá no bordel; você sabe mas finge que não. Minha consciência segue tranquila; avisei que o texto seria azedo.


Uns param de ler, uns param de viver, uns até fingem nada haver quando a verdade lhes bate à porta. Em algum momento da vida a verdade vai te aparecer bruta e verdadeira, em algum momento da vida a decepção virá, como a sua empregada que te roubou, a vizinha que deu para o seu marido, o irmão que roubou na empresa da família ou seu filho viciado em cocaína. A tua melhor amiga negou-lhe uma cama e o teu melhor amigo não quis ser seu fiador.


Em algum momento inesperado o susto virá com tudo.


Seu filho recém nascido estará à beira da morte por vários dias.


Você se entregará às suas crenças e pedirá para trocar de lugar com ele. A tua culpa, o teu ressentimento, fará com que você veja o precipício, o lado negro e abissal da vida, antes de você renascer de suas profundezas. O seu pessimismo, esse trauma infantil que você não cura e que vive te matando lentamente, tornará a sua vida um histórico de caos.


Você pensará em se matar, em sumir.


Muitas horas de sono serão consumidas, inertes e letárgicas, até que você abra a janela e veja o sol, sinta a brisa, relembre do seu primeiro beijo, de sua primeira transa desajeitada, de seu primeiro porre com os amigos.


É muito importante que você leia esta crônica ouvindo Sleep on The Floor.


Muitos quilos de gordura serão acumulados em seu abdômen e em seu coração até que você decida o quanto quer viver; como quer viver. Muitas escolhas idiotas serão feitas e muito tempo será perdido enquanto você decida se trabalha para a tua vida ou pelo dinheiro;



o que é o dinheiro na tua vida; você precisa saber.


Em algum dia uma conta vai vencer e você não vai pagar. Porque é irresponsável ou porque não tem dinheiro. Você viverá a tua vida com o dinheiro de papai, com a empresa que ele construiu, e precisará decidir se isso te faz bem ou não. Se você vai seguir firme no negócio da família. Se você vai afundar tudo, enfiar no cú todo o império que ele construiu. Se vai gastar tudo em puta e bebida ou vai entregar a sua administração para quem entende do assunto.


Chega-se a um ponto que ouvir Sleep on The Floor torna-se necessário.


Os literatos apontariam estas últimas duas linhas como clímax da crônica. Ainda que não seja típico de crônica esse clímax. Em algum momento, você precisa admitir que é um escritor de merda e que vai precisar escrever ainda muito e soltar suas amarras formais e gravíssimas para que sua imaginação fume uma erva. É preciso deixar sua cidade pequena pra trás.


É preciso agarrar de olhos fechados na mão de seus pais e de seu melhor amigo. A bolha foi sempre o maior dos pecados capitais. E, nesta crônica, sob a túnica de minha arrogância existencial eu acrescento o oitavo pecado capital, que não se sabe o porquê escapou da lista: a bolha. E, em rigor, este deveria ser o primeiro deles porque somente quem sai dela tem condições de praticar todos os demais. Cometa-os logo para que você se conheça o quanto antes.


E, agora, chegamos ao ponto que se torna indispensável ouvir Sleep on The Floor.


Não pense que passará pela vida incólume dentro de uma bolha; temporária por definição. Ache os holofotes que iluminam a sua existência. E, assim, hoje, durma do chão concreto de sua realidade, olhe-a face a face e ria uma noite inteira dela enquanto você coloca a tua música favorita.


Chame-me de idiota que escrevo parado e sentado atrás de meu computador escrevendo sem pensar...É um enfoque possível. Ache um algoz alheio como você faz de vez em quando.


Mas, antes que eu esqueça, ouvindo Sleep on The Floor, a crônica terminará diferente enquanto tomo minha breja gelada e vejo o cargueiro atravessando a baía.


"Pack yourself a toothbrush dear Pack yourself a favorite blouse Take a withdrawal slip, take all of your savings out 'Cause if we don't leave this town We might never make it out I was not born to drown, baby come on"


(Sleep on The Floor), The Lumineers

Comentários


@2025 - Todos os Direitos Reservados - ANTES QUE EU ME ESQUEÇA - CRÔNICAS E ESCRITAS - From WWEBDigital

bottom of page