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a matança

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 27 de jan. de 2018
  • 3 min de leitura

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Esse sujeito aí em cima se chama Jimmy London, é um cara que não gosta de ninguém, sua mulher já roubou seu caminhão porque não o aguentava mais e ele é sócio do clube dos canalhas. Vive bêbado e não pensa duas vezes pra meter o pé na porta e dar soco na cara.


Com esse visual ele se passaria facilmente por um Viking ou ainda por um bandeirante paulista desbravando o interior de São Paulo, eliminando ou escravizando índios Tupis para abrir as picadas. Eis que as estradas hoje que tomam nome dos bandeirantes eram as picadas que esses desbravadores tomavam para buscar riquezas no interior adentro. Depois de ler o genial livro 1499, do Reinaldo Lopes, dissipou-se como fumaça a impressão, por vezes generalizada, de que havia alguns índios no Brasil antes da chegada do branco europeu. Diz-se comumente, assim, havia índios antes em oposição à idéia de que não havia ninguém. Mas o enfoque é bem outro. Havia uma porrada deles aqui no Brasil, ocupavam todo o litoral do Brasil, vindos do Amazonas e do centro-oeste.


Matança.


Havia milhões de índios de diversas tribos, sem que se houvesse uma organização entre eles, exceto muito depois, com a ajuda dos franceses, da Confederação dos Tamoios.


Matança.


Depois vieram os negros africanos, mais fortes, mais rentáveis, igualmente desorganizados, exceto tempos depois as quilombolas findando-se Palmares.


Matança.


Já no Brasil império, Darcy Ribeiro logo no começo de seu genial formação do povo brasileiro, deixa claro que as tentativas genuinamente populares para subversão da já gritante desigualdade social, Cabanos, Canudos e Contestado, deixaram milhares de mortos sem que houvesse uma mudança desse quadro. Morreram em vão mesmo.


Matança.


O Brasil nasce elitizado e proletariado, nasce com uma porção para servir a uma minoria. Enquanto a formação inicial aqui se deu para servir o Europeu nos Estados Unidos os que lá chegavam queriam terra e distância dos índios. Aqui estes se postaram a trabalhar e a receber Deus de nádegas abertas. Lá, os conflitos resultavam em sua maioria por disputas de terras.


Já é a segunda vez que Matanza vem a Limeira.


Jimmy é o seu vocalista.


O show é bom, é eletrizante, as letras são boas. Agora, num dado momento o Jimmy faz um sinal com a mão e a galera começa a se debater e a se chutar carinhosamente, no melhor estilo punk de ser. Não é briga. É catarse pela música, é um tipo de dança, tá bom, é porrada mesmo, mas sem violência, é a maneira como o brasileiro vai tocando a vida. E assim vai ficando leve da pancadaria que é viver neste país.


Viver num Brasil fudidamente desigual; morrem guerras no Brasil todos os anos. Matança.


Matanza.


Não vai mudar

Vai ficar bem pior do está.

É inútil dizer, se ninguém quer saber

Não vou ficar Vou embora pra outro lugar

Não consigo viver Perto assim de você

Atitude é sempre covarde Partido que não pode explicar

A pergunta se faz muito tarde

A resposta não queira escutar

Não explica a miséria do mundo

Não entende, não vai discutir

Nos ordena que mude de assunto

Diga algo que os faça sorrir.


Vejam a cara de raiva de Jimmy. De um lado ele aponta para o Brasil fudido. Na outra para a galera se debatendo. Algo como, que porra é esta? Pessimista. Que porra de país é este que nós brasileiros estamos construindo? Pessimista. Fui embora antes do show terminar, não sei se tocaram Dont Take Your Guns to Town, de Johnny Cash. Que vontade de botar a arma que não tenho na cintura e passar uns dias no faroeste, participar do massacre de Canudos, tombar ao lado das cabanas no Grão-Pará. Que vontade de dar uns tiros de 12, que também não tenho, pra cima no meio da noite pra ver se o Brasil acorda.


Ah, antes que eu me esqueça, na próxima vou entrar na pancadaria punk, vai que é um túnel do tempo...

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