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Deus.

  • Texto: Carlos Camacho - Luiz Otávio Duarte Camacho
  • 6 de jan. de 2018
  • 4 min de leitura

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Previously em “Antes que eu me esqueça” uma janela numa manhã cinzenta dum domingo qualquer guiou-me para orações católicas, filas e o passat do Assad. Ambientado no Colégio Santo Américo mencionei que meu pai era professor de Teologia. Um dia, pós 1990, entrei em seu escritório em casa e vi inúmeros livros de Allan Kardec; recém comprados.


- Pai, mudou?

- É, a religião católica não explica tudo...


Foi mais ou menos por estes tempos que uma Senhora jogava umas ervas e sal nalguns sábados de manhã pela minha casa. Entrei na cozinha e a Senhora com o fumacê, o sal e os ungidos. Puta susto!! Pai, não se esqueça do meu quarto! Ahahahhahaha. Dei risada e saí. Essa Senhora teve um desenrolar interessantíssimo. Qualquer dia eu volto e conto, pode ser na próxima ou daqui uns anos. Quem sabe assim a audiência se mantém fiel. Mas a maior parte da minha vida meu pai foi católico, quase se ordenou padre e eu cresci indo às missas na Igreja da Sagrada Família, na Saúde. Mudar de opinião ao longo da vida, de crença, de sabonete ou de cerveja, não invalida as experiências anteriores. E, foi, no auge dessa crença em Deus que arranquei duma resma de escritos de papai o texto que segue.


Hoje, pai, lhe empresto a minha cadeira terrena. Se encontrar a tal Senhora por aí diga-lhe que eu ainda perscruto almas.


Sem mais delongas, o texto de papai chamado Deus, escrito em 21/05/1984.


"Esta minha verdade que eu falo e vivo nos silêncios e de minha noites diurnas e de meus dias noturnos. A um passo de mim eu escuto o infinito. Não só fora de mim; também dentro.


Quando amo, quero amar tanto que nenhum limite me satisfaz ou impede de sentir.


Existem comigo meus desejos de ser a minha melhor fantasia. Eles não vêm só em minha insônia; vêm, também, em minha oração.


Pois eu rezo.


E rezar é transformar tudo o que sou e que me rodeia em uma voz possante que habita o espaço infinito do meu Deus e o chão pequeno e duro da minha vida.


E, nessa mistura, fazemos nossa conversa.


Tudo o que busco, eu sei, busco além da minha rua, do meu vizinho, e do meu pensamento. Deus não é uma "simples resposta", não. Ele é mais: minha pergunta constante. Ele não está em minhas superfícies; está em meus alicerces. Mas não desrespeita minhas superfícies, não; convive com elas também. Ele pisa o meu chão, passeia nele e mora em minha alma. Ele trata do meu corpo e alimenta o meu espírito. Ele ama com meus gestos, toca com minhas mãos, deseja com os meus olhos e se entrega com meu coração. Ele acende uma luz na minha avenida e me deixa o facho. Ele clareia meu espírito e me entrega a chama. ele acende minha fogueira e me dá o fogo. Ele embeleza as mulheres e lhes conta o segredo. Ele desenha os sorrisos e os entrega aos lábios. Ele revela o amor e cria os corpos. Ele pensa nas flores e nos dá a terra. Ele não se esconde porque foge, senão porque deseja que nós o encontremos na liberdade de nossa fragilidade tão séria! Ele é doce como o melhor de todos os néctares, mas me ensina a saborear o mel.


Nosso Deus meu é tão próximo que, como homem se mistura e sai por aí vibrando com as meias-noites da vida, os dias quentes, as madrugadas cansadas, os beijos roubados, as mãos que se abraçam, os rostos queimados pelo calor gostoso do fogo do amor.


Ele é esquerdo e direito, reto e torto, capaz de qualquer contorno para me amar mais e fazer-nos mais amantes uns que outros.


Não posso demonstrar meu Deus.


Ele é tão grande próximo e distante que é preciso ouvir o poeta: "...viver um grande amor..." Meu Deus não pensa nem como eu nem como você; mas nos ouve e fala conosco por todos os poros da vida, em idiomas nada convencionais, como em reuniões de paz...Ele vem na moça bonita, na dor sofrida, na madrugada acordada, na noite clara, na clara manhã, quase nada, sempre igual, e na tarde atrasada da fantasia frustara pelo dia arrastado; Ele vem na lágrima escondida, na vergonha oculta, na alegria pequena, na falta de pão, na falta de grana, na falta de emprego, na falta dela, na falta de tudo, no desejo sem jeito de ser esquecido, a sua presença.


Este Deus que ninguém controla é como o amor mais intenso que ninguém pode esconder ou fingir que esqueceu. É uma fantasia armada de realidades. É realidade, além de toda fantasia......................


No meu silêncio cheio de presenças da minha meditação, sinto minha sala, onde escrevo, habitada: À esquerda, samambaias e avencas, fazendo harmonia com a roca secular. Ouço música. Pouco mais adiante, a vitrine com cristais. Escondidos entre tudo, meus "ais", meus outros eus. E, sentado comigo, amigo, meu Deus."


Eu nunca estive sozinho.










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