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...um shot!

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 2 de dez. de 2017
  • 3 min de leitura

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Antes que eu me esqueça; um shot.


Dia desses conheci uma jovem maravilhosa, já falo dela. Houve um tempo em que somente as pessoas que poderiam me trazer algum benefício ou que pudesse me acrescentar algo me atraíam. Não estava interessado nelas - óbvio - mas em mim. Afastava-me dos chucros e dos miseráveis; da gentalha.


A compaixão só nasce com os santos, os homens só a praticam depois que precisaram dela. O egoísmo nos mostra sua face mais perversa em algum momento da vida. Sim São Francisco, eu nasci fazendo o que é necessário para sobreviver, somente depois de algum tempo me vieram as forças para fazer o que parecia impossível. Esse tempo passou, como passam as músicas e os ventos; as paixões e as vidas.


As pessoas pelas pessoas.


E, assim, hoje, o diferente me fascina, pessoas diferentes de mim, de hábitos diferentes, de profissões diferentes, de manias, hobbies, roupas, discursos, cabelos, música, filme, gordos e magros, humildes e arrogantes. É fantástico conversar com arrogantes, dar corda para seus egos, suas conquistas, suas façanhas, ver a naturalidade com perfilam seu desprezo alheio.


Já não julgo; conheço.


Já não rotulo; entendo que a vida é sempre diferente para todo mundo.


O fascínio pelo alheio talvez explique o meu talho para a advocacia...cada pessoa um problema, mesmo problema noutra pessoa e portanto outro problema. E assim corro contra a finitude do tempo para conhecer pessoas diferentes de mim, o máximo possível. As acho; e rapidamente nos primeiros minutos de conversa, como quem vence no 21, eu me dou conta do tesouro. O leitor machadiano, perspicaz, dirá que eu não conheço as pessoas verdadeiramente numa conversa, mas só o seu discurso. É verdade; já o que contam, como contam, até se não contam nada, me dizem alguma coisa. Valho-me dos discursos e de como eles se apresentam; ora pois.


Ela é simpática, de sorriso fácil, linda sob todos os padrões de beleza que já desenhei por aí. Vestia azul com decote na medida. E conversa. Esperta, mas não só. Inteligente. Aos poucos vejo a diferença e o fascínio logo toma conta de mim entre historietas pausadas pelos shots de Jägermeister....essas mulheres de shot sempre me fascinaram. Na verdade, reparem: quando a mulher vira aquele copinho duma vez, não está só tomando um trago, está sutil e ferozmente dizendo a todos “yes, we can”, nós não estamos só em casa. Partimos para a conquista.


Poderia o shot ser símbolo da causa feminina, seja ela qual for?


Viciada em quadrinhos, mas não Tio Patinhas e Turma da Mônica tio. Quadrinhos mesmo. Guguei no dia seguinte, Quarteto Fantástico, Os eternos, A liga extraordinária e Archer and Armstrong...E me dou conta que nunca li nenhum quadrinho desses. Simpática, linda e viciada em quadrinhos de verdade. Atenção, queria enfatizar que são quadrinhos de verdade. Ficou claro, né? De azul. Não qualquer azul, um azul escuro-claro, um azul sorriso, um azul jornada. Alguma estrela que veio de outro universo para uma noite qualquer.


Uma heroína de quadrinhos que combate a monotonia e aparece de azul diferentemente diferente todos os dias; e dela veio a recomendação para ler “Os Deuses Americanos”, de Neil Gaiman. Comprei. E logo no prólogo “Os limites do nosso país, senhor? Por que senhor, no norte, somos delimitados pela Aurora Boreal, no leste, somos delimitados pelo sol nascente, no sul, somos delimitados pela procissão dos equinócios e no oeste pelo dia do julgamento”, de “Jest Book do americano Joe Miller”. Antes que eu me esqueça; postergo o dia do meu próprio julgamento.

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