Também sofri bullying na escola.
Sim, e depois de alguns anos, alguns muitos anos...Ok, muito, muito tempo depois, tipo esta semana, veio o bullying digital. Neste sábado um amigo tirou uma foto e me botou cabelos loiros e batom rosa. Enviou de novo para o grupo do whats que temos em comum. Tudo porque resolvi tomar um aperol. E, assim, a minha foto aperolada, de batom e cabelo, foi para a galera. Bullying. Gracejos, risadas e toda a palhaçada que vem junto. Aí eu resolvi esculachar de vez e botei no Insta.
Já que é pra esculachar a minha imagem, que o estrago seja feito; magnânimo.
Jamais admitiria isso numa crônica se o assunto não fosse sério; descontrair foi apenas uma maneira de prender a tua atenção. Talvez o bullying nem seja mesmo, tecnicamente falando, assunto para crônica. Não é, certeza.
Não sou psicólogo e não sou professor. Sou pai e já fui adolescente; nada mais. Ocorre que na mesma semana terminei de assistir “13 reasons why” e presenciei um xingamento entre colegas no grupo do whats da minha filha. Assim, no papo vai, no papo vem, filha o que tá rolando aí nesse grupo de bom? Já estava esperto. E ela me mostrou.
E volto no tempo enquanto assisto aos 13 motivos. Volto muito no tempo e lembro que não foi fácil ser meu amigo e nunca tive amigos fáceis.
Zoamos muito.
Fomos zoados, um mais que os outros.
Um sempre mais que os outros. Tinha de tudo na Einstein, sim o nome da escola era esse, o mesmo autor que curiosamente, me chamou atenção pela frase num azulejo nas calçadas de Ipanema “A felicidade não se resume na ausência de problemas, mas sim na sua capacidade de lidar com eles”. Ali, naquela escola que foi não só o recinto de ensino técnico, aprendi o significado da palavra amizade; sobre a vida. Vivemos ali intensamente parte da adolescência.
Ela tinha uma particularidade, ficava próxima da rua Capitão Bernardes, local destinado ao prazer efêmero e pago. E, às vezes, nos deparávamos comendo sanduíches de mortadelas com as tias. Não, era no bar defronte mesmo....
Tempos de vestibulares, de preliminares, tempos mágicos. A brincadeira mais leve era guerra de cuspe, chamado tchubaba. Nojento. Disgusting. E me perguntei porque nunca ninguém se matou ali. Me perguntei porque nenhum de nós ficou traumatizado para a vida toda. Bom, acho pelo menos. Perguntei-me qual seria a diferença entre aqueles e estes dias. Se havia diferenças entre os bullyings temporais....
A crueldade na adolescência sofre quais mutações ao longo do tempo, quero dizer, o quanto a crueldade na adolescência é determinista...? Não sei; precisa parar, pesquisar e gugar. Pensar talvez. Mas, porém, contudo, duas me vieram assim, mais prontamente. A primeira delas é que não havia internet, os bullyings eram locais, no máximo o Sr. Osvaldo, acho que é este o nome dele, nos repreendia imediata e localmente.
Nascia e morria ali mesmo, às vezes na porrada entre nós mesmos.
E, outra diferença, esta sim, e penso eu seja a principal. Simples e tão bonita ao mesmo tempo: havia amizade. Éramos amigos. Amigo é que pode zoar o amigo. A amizade verdadeira sabe o momento de parar. É a amizade verdadeira que pede desculpas quando se erra a medida. Não só estudávamos juntos, íamos um a casa do outro, saímos à noite, fazíamos trabalho juntos. Colamos juntos. Admirávamos uns aos outros, amigos e amigas. Não tinha essa de não saber o que tava rolando na casa, se havia brigas com os pais ou com os irmãos.
Não tinha essa de deixar apanhar sozinho.
Uma aliança mosqueteira. E tenho uma amiga brilhante que curiosamente falei esta semana, cuja mãe, Dona Ivani, nos recebia em sua casa para lanches memoráveis. Ai de você se não lanchasse bem na casa da Dona Ivani...E foi essa minha amiga, míope precoce, que percebeu o meu esforço para ler a lousa e sentenciou com a ternura que lhe é própria: você precisa de óculos! E me ajudou a escolher os meus primeiros óculos drumondianos.
Minhas retinas jamais se esquecerão da sua primeira muleta metafísica. Algo me diz que bullyings jamais cessarão, eis que a crueldade nunca se afastou da natureza humana. É preciso ter coragem para tirar do tempo o privilégio da vida.
É preciso coragem para sustentar uma amizade verdadeira.
Antes que eu me esqueça; relembro como a amizade é fortaleza contra os ataques da crueldade humana.
Comentários