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eu vivo

  • Foto do escritor: Carlos Camacho
    Carlos Camacho
  • 28 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

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Vivendo uma semana típica da política brasileira, onde Ministros do STF acirram as suas discussões e um deputado assume abertamente votar em favor do Presidente em troca das verbas que serão liberadas para o seu curral eleitoral; a beleza do cotidiano me salva.


Localizar o belo é hoje meu passatempo favorito, uma mulher bonita, um pai abraçando o filho, Dolce Francia de Carla Bruni ou os fiordes da Nova Zelândia.


Vivemos nós todos num país difícil, onde o Brasil custa a prevalecer sobre os brasileiros, onde as crianças aparecem como prioridade somente nos discursos e percebo que o brasileiro não se orgulha do Brasil; nunca o brasileiro odiou tanto o seu país. Quem pode foge, Estados Unidos, Portugal ou Itália. Não, não há estatística, é só a minha percepção. É a beleza que nos paralisa para carregar nossas forças; nos impulsiona depois para buscar outra maravilha.


Em Wanted, o destino coloca duas mulheres num ponto de ônibus e ali se envolvem numa trama policialesca cuja única saída é fugir; correr. Um blended de Thelma e Luise com Bonnie e Clyde. Uma corre de seu passado; a outra de sua vida medíocre, do trabalho só pelo dinheiro, do casamento só para estar casada; e paradoxalmente é fugindo que ela se encontra. Em dado momento, se acham na Nova Zelândia, e ali naquelas montanhas, nos fiordes e no frio eu paro, ainda que pelas telas, para ver quão bela Ela é...e me pergunto como não conheço ainda a Nova Zelândia...como não conhecemos tantos lugares que sonhamos.


Corta para Limeira, cidade que já teve Prefeito acusado de corrupção e o seu único teatro se chama Vitória. Cidade que inventou a coxinha quando Dom Pedro cá esteve por um tempo. Pois bem, nessa cidade um jovem sonhador foi atrás do belo e montou uma tenda; um circo, e passou a ensinar crianças e adolescentes, tecido, lira, trapézio, tecido duplo, corda e muita pirueta, muita estrela. Chamou de life Circo, cresceu e se disseminou como franquia. Trouxe o belo, a beleza do picadeiro, enfim a trupe que nesta semana paralisa o meu cotidiano pela beleza. Não só a beleza dos artistas mirins deslizando em tecidos, formando pirâmides e as estrelas sem fim; a beleza da construção. Há sintonia entre eles para fazerem o movimento ao mesmo tempo, é preciso olhar para quem está ao seu lado. Há confiança, pois os que estão na base da pirâmide, fortes, não podem fraquejar para que os do topo brilhem.


Há muito confiança porque quando se pula de 3 metros de altura só uma opção: seus companheiros têm que te segurar.


Isso ou o chão.


Há insistência, eis que tudo é forjado na repetição, na vontade de força pura.


Há concentração para que os nós dos tecidos sejam precisos.


Há humildade quando se curvam diante da platéia.


Treinam o jogo de cintura; o disfarce rápido do movimento que deu errado. De repente uma artista abre espacate a cinco metros de altura; enrola e se desenrola em movimentos cadenciados, precisos e leves.


A platéia quer emoção. A platéia quer a beleza da construção.

Os artistas estão se divertindo; não têm a exata dimensão que estão se forjando pessoas melhores. O espetáculo antes do brilho individual, o Brasil antes dos Brasileiros, de novo a beleza me paralisa no meio do circo, no país em que o maior picadeiro está em Brasília, sonho com o país em que as crianças e os adolescentes vão para o circo da construção em vez de se evaporarem pelas comunidades e favelas de um país onde há “sujeira pra todo lado”.


Dá trabalho construir um país, ainda mais o Brasil que nunca teve uma bomba atômica explodindo na Sé, no Pelourinho ou no Catete.


Eu calculo que repeti com minhas filhas aproximadamente 4.732 vezes as expressões “por favor” e “obrigado”, cada uma, até que se tornasse um hábito. Os artistas dos espetáculos que eu vi esta semana repetiram centenas de vezes aqueles movimentos.


Eu sonho com índices de criminalidade da Nova Zelândia e me aterroriza imaginar uma favela, ou comunidade para os cariocas, naqueles fiordes. Há algum tempo, pelo meu insta e de meus amigos, vi duas fotos muito parecidas, tiradas à noite, uma do morro do Vidigal e outra de uma encosta na Itália.


Muito parecidas até que o sol nasça e ilumine as nossas mazelas. O Brasileiro deveria sonhar com um Brasil melhor, fugir desse orgulho tosco de país do futebol e do carnaval, e se distanciar do jeitinho que traz benefícios individuais mas acaba com o Brasil, detona as próximas gerações.


Deixemos o circo para as nossas crianças e adolescentes, o picadeiro para os palhaços e o Brasil brasileiro. Em algum momento o espetáculo precisa acontecer; o Brasil precisa acontecer.


Antes que eu me esqueça; eu me distraio com a beleza deste cotidiano.

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